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Esses eventos contribuíram para uma campanha que envolveu civis e militares,
republicanos e monarquistas, pela modernização da Marinha brasileira. O diagnóstico era de que
ela estava completamente obsoleta, inferior às de nossos vizinhos da América do Sul, Argentina e
Chile, não tendo capacidade de defender a nação em um conflito. Não possuía uma esquadra
homogênea e coerente, oriunda de um programa naval planejado, mas sim navios e armamentos
de vários sistemas, adquiridos ao varejo, de acordo com as possibilidades do momento. Em suma,
conforme as palavras de Martins Filho, a Marinha brasileira “era um monstro raquítico” (2010, p.
58).
O painel era ainda mais insatisfatório quando os ministros e indivíduos que pensavam a
reestruturação da Marinha olhavam para o período imperial, quando supostamente teria sido
mais poderosa que as dos seus vizinhos e, portanto, capaz de garantir a hegemonia brasileira nos
mares da América do Sul. Esse discurso, de uma superioridade passada e a necessidade de sua
recuperação, esteve presente em grande número de relatórios ministeriais ao longo do período.
Em 1900, escrevia o ministro J. Pinto da Luz em seu relatório referente ao ano de 1899:
(...) é nas forças militares que repousam a tranquilidade da nação e com um
litoral do tamanho do Brasil, cabe à Marinha o principal papel em uma
emergência de guerra. Neste sentido,
é necessário fazer voltar ao seu estado
em
que era respeitada
entre as potências da América do Sul
(BRASIL, 1900, p. 3,
grifo nosso).
No relatório de 1901, o mesmo ministro aconselhava a substituição dos antigos navios
brasileiros por modelos mais modernos, caso o país quisesse garantir a hegemonia que lhe
competia na América do Sul:
De tipos mais antigos em sua maioria, e, portanto, condenados pelas construções
modernas, a substituição deles é aconselhada pela necessidade que tem a
armada nacional de se refazer de novos elementos que lhe garantam
a conquista
do lugar que lhe compete na América do Sul (
BRASIL ,1902, p. 44, grifo nosso).
No ano de 1913, o ministro Alexandrino Faria de Alencar, ao defender a compra do
dreadnought
3
Rio de Janeiro, objeto de polêmica nos meios navais nacionais e internacionais,
justificava a sua posição:
3.
Dreadnought
era um tipo específico de navio encouraçado, verdadeira fortaleza flutuante. Conforme veremos
adiante, seu lançamento significou um grande impacto, seja nas esferas militares, seja nas relações internacionais no
início do século XX.