Nasceu em São Luís de Paraitinga (SP) em 5 de agosto de 1872. Filho de Amália Bulhões Cruz e do médico Bento Gonçalves Cruz, voluntário na Guerra do Paraguai (1864-1870). Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro (1887), onde seu pai montou consultório na própria residência e começou a trabalhar no ambulatório da Fábrica de Tecidos Corcovado, situados respectivamente nos bairros da Gávea e do Jardim Botânico. Fez o ensino primário nos colégios Laure e São Pedro de Alcântara, matriculando-se depois no Externato Pedro II. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1887-1892), onde exerceu o posto de auxiliar no Laboratório de Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1888). Ocupou o cargo de assistente no Instituto Nacional de Higiene, nova denominação do laboratório, transferido à Inspetoria-Geral de Higiene (1890). Após o falecimento do pai em 1892, assumiu no ano seguinte a sua clínica e também o ambulatório da Fábrica de Tecidos Corcovado. Em 1895, ingressou no laboratório de análises clínicas da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, instituição de natureza filantrópica criada em 1882 por iniciativa dos médicos da Faculdade de Medicina. Em 1896, viajou para Europa, tendo estagiado no Instituto Pasteur de Paris, e depois na Alemanha. Em 1899, de volta ao Brasil, reassumiu seu posto na Policlínica do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano foi convidado a integrar a comissão da Diretoria-Geral de Saúde Pública (DGSP) com vistas a conferir o diagnóstico de peste bubônica no porto de Santos (SP), dado pelo Instituto Bacteriológico de São Paulo. Confirmou a existência da epidemia, tendo contraído a doença durante sua estadia em Santos. Foi curado por meio da soroterapia antipestosa. Em 1900 foi nomeado diretor técnico do Instituto Soroterápico Federal, criado para produzir soros e vacinas contra a peste bubônica, tendo assumido a direção em 1902. O instituto passou a denominar-se de Patologia Experimental de Manguinhos, sendo rebatizado em 1908 de Oswaldo Cruz (IOC) em sua homenagem. À frente do IOC, modernizou seus laboratórios e edificações, criando um núcleo de pesquisa na área de medicina tropical que se distinguiria ao longo do século XX. Em 1903, foi nomeado para dirigir a Diretoria-Geral de Saúde Pública (DGSP), pelo então presidente Rodrigues Alves (1902-1906), cuja gestão foi voltada para a reforma urbana e o saneamento da cidade do Rio de Janeiro. À frente da DGSP, notabilizou-se por suas campanhas sanitárias então fundamentadas pela teoria microbiológica pasteuriana e pela medicina tropical, com o objetivo de combater a febre amarela, a peste bubônica, a varíola e a tuberculose, que, de tempos em tempos, assolavam as cidades e diversas regiões do país, dizimando parte significativa da população. Entre outras medidas criou a polícia sanitária, a brigada antimosquito e tornou obrigatória em toda a República a vacinação contra a varíola. Suas campanhas sofreram duras críticas de diversos setores da sociedade, sendo seus métodos alvo da crítica mordaz da imprensa da época. Apesar da rebelião popular, denominada Revolta da Vacina (1904), contra a obrigatoriedade da lei e sua posterior revogação, a febre amarela foi, enfim, erradicada na cidade do Rio de Janeiro em 1907. Permaneceu no cargo até 1917 quando então se exonerou. Na década de 1910, participou de várias campanhas pelo país destacando-se as expedições para Porto Velho, no estado de Rondônia, onde se construía a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e a de Belém do Pará, onde combateu respectivamente a malária e a epidemia de febre amarela. Participou ainda de várias missões científicas no exterior. Esteve em conferências sanitárias em Roma, Nova Iorque, Cidade do México e Montevidéu. Ganhou diversos prêmios e honrarias destacando-se a Cruz da Legião de Honra, a mais alta comenda francesa. Em 1912, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Nomeado pelo então presidente do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha (1914-1917), foi o primeiro prefeito de Petrópolis. Poucos meses depois, licenciou-se do cargo devido ao seu estado de saúde. Entre as principais obras destaca-se sua tese de doutorado A veiculação microbiana pelas águas. Colaborou ainda com diversos periódicos nacionais e estrangeiros. Na década de 1890, redigiu vários artigos para o renomado periódico Brasil Médico, entre os quais publicou As condições higiênicas e o estado sanitário da Gávea (1894). Editou o periódico científico Memórias do Instituto Osvaldo Cruz, que divulgava os trabalhos originais desenvolvidos pelos pesquisadores da instituição. Morreu em Petrópolis, Rio de Janeiro, em fevereiro de 1917, aos 44 anos.

 

Daniela Hoffbauer
Gláucia Tomaz de Aquino Pessoa
Mar. 2019

 

Bibliografia

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