Ir direto para menu de acessibilidade.
Portal do Governo Brasileiro
Página inicial > Dicionário Período Colonial > Inspetor dos Estabelecimentos Literários e Científicos do Reino
Início do conteúdo da página

Inspetor dos Estabelecimentos Literários e Científicos do Reino

Publicado: Quinta, 10 de Novembro de 2016, 14h02 | Última atualização em Quinta, 08 de Outubro de 2020, 16h10 | Acessos: 2258

O cargo de inspetor dos estabelecimentos literários e científicos do Reino foi criado pelo decreto de 26 de fevereiro de 1821, com a finalidade de promover a instrução pública no Brasil, acreditando-se ser esta a melhor forma de “se obterem os apreciáveis bens da felicidade, poder, e reputação do Estado” (Brasil, 1889, p. 24). Para o cargo foi nomeado José Maria da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu, que exerceria as instruções reais e a direção das escolas do Reino, do Museu Real e outros estabelecimentos científicos.

Em Portugal, o reinado de d. José I (1750-1777) foi palco de uma série de transformações no ensino, conduzidas pelo ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, integrando um amplo programa de modernização do aparelho estatal, que abrangia reformas políticas, administrativas, econômicas e culturais. Nesse sentido, o alvará de 28 de junho de 1759 estabeleceu o ensino público como oficial e laico, e extinguiu todas as classes e escolas sob controle da Companhia de Jesus, consolidando um processo de secularização a partir do desmonte do sistema de ensino até então exercido predominantemente pelos jesuítas.

O alvará de 1759 instituiu ainda o cargo de diretor dos estudos, a quem competia fiscalizar e cuidar do progresso da reforma que estava sendo implementada, bem como aprovar nomes e conceder licenças aos professores. O mesmo ato fornecia instruções sobre os métodos educacionais a serem utilizados dali em diante e as aulas que deveriam ser ministradas, como gramática latina, grego e retórica. Essa mudança abrangeu não somente os estudos menores, que compreendiam o ensino das primeiras letras e humanidades, mas também os estudos maiores, concentrados na Universidade de Coimbra. Nesse momento, houve ainda o restabelecimento do Real Colégio dos Nobres, que preparava os filhos da nobreza e da alta burguesia para a universidade, e a criação de aulas de comércio, destinadas à preparação para as práticas contábeis e mercantis. Posteriormente, o alvará de 4 de junho de 1771 delegou à Real Mesa Censória a direção dos estudos das escolas menores do Reino e domínios, e a direção do Real Colégio dos Nobres. Para sustentar as aulas régias foi criado, em 10 de novembro de 1772, o subsídio literário, imposto estabelecido sobre o vinho, a aguardente do Reino e domínios, e cada arrátel de vaca na Ásia, América e África.

No Brasil, o monopólio da educação esteve nas mãos dos jesuítas desde o início do processo de colonização, com escolas na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, ao lado de outras poucas escolas confessionais. Destinadas aos filhos de famílias ricas e apenas excepcionalmente abertas aos pobres, essas escolas gratuitas complementavam os estudos particulares, geralmente realizados em casa.

No século XVIII, a citada reforma da educação portuguesa e a expulsão dos padres jesuítas da colônia refletiram rapidamente sobre o sistema de ensino, tendo o alvará de 5 de julho de 1759 nomeado como comissários do diretor dos estudos os chanceleres das relações da Bahia, do Rio de Janeiro e os ouvidores-gerais. Contudo, os obstáculos para a implantação das aulas régias na colônia foram grandes e, em parte, ultrapassados somente com a criação do subsídio literário, quando foram estabelecidas aulas de primeiras letras e de disciplinas isoladas, como gramática latina, grego, filosofia e retórica. Em 1799, a carta régia de 19 de agosto encarregou os governadores de capitanias e bispos do provimento dos professores.

Com a transferência da Corte para o Brasil, em 1808, as áreas cultural e educacional da colônia receberam um forte impulso, por meio de uma série de medidas como a criação de cursos superiores de medicina, da Academia Real Militar, do Museu Real, dos Laboratórios de Química e Químico-Prático, além da ampliação das aulas régias. Já em 1811, o “almanaque da cidade do Rio de Janeiro informa que, em cada freguesia, havia aulas de primeiras letras e, na sede da Corte, aulas de lógica, grego, retórica, latim, português e francês. Em 1816, aparecem as aulas de gramática latina, filosofia, desenho e figura.

Foi nesse contexto que se criou o cargo de inspetor dos estabelecimentos literários e científicos do Reino, responsável pela instrução pública no Brasil. A legislação, no entanto, não fornece mais informações sobre suas atribuições, mas é possível dizer que o cargo continuou vigorando nos primeiros anos após a independência do país, visto que o “almanaque do Rio de Janeiro” para o ano 1825 ainda menciona sua existência.


Angélica Ricci Camargo
Nov. 2012

 

Fontes e bibliografia
ALMANAQUE do Rio de Janeiro para o ano de 1811. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, v. 282, p. 97-236, 1969.

ALMANAQUE do Rio de Janeiro para o ano de 1816. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, v. 268, p. 179-330, 1965.

ALMANAQUE do Rio de Janeiro para o ano de 1825. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, v. 291, p. 177-284, 1971.

BRASIL. Decreto de 26 de fevereiro de 1821. Cria o lugar de inspetor-geral dos estabelecimentos literários e científicos deste Reino. Coleção das leis do Brasil, Rio de Janeiro, p. 24, 1889.

CARVALHO, Laerte Ramos de. A educação e seus métodos. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História geral da civilização brasileira. t. 1: A época colonial. v. 2: Administração, economia, sociedade. Rio de Janeiro; São Paulo: Difel, 1982. p. 76-87.

FALCON, Francisco José Calazans. Da Ilustração à Revolução: percursos ao longo do espaço-tempo setecentista. Acervo: revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 53-87, jan./jun. 1989.

______. A época pombalina: política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982.

MACIEL, Lizete Shizue Bomura; SHIGUNOV NETO, Alexandre. A educação brasileira no período pombalino: uma análise histórica das reformas pombalinas do ensino. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 465-476, set./dez. 2006. Disponível em: https://goo.gl/WRSj1q. Acesso em: 27 abr. 2008.

NEVES, Gilherme Pereira das; NEVES, Lúcia Maria Bastos das. Ilustração. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (coord.). Dicionário da história da colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994. p. 414-416.

PORTUGAL. Alvará de regulamento dos estudos menores, de 28 de junho de 1859. Coleção da legislação portuguesa desde a última compilação das ordenações redigida pelo desembargador Antônio Delgado da Silva. Legislação de 1750-1762, Lisboa, 1830. Disponível em: https://bit.ly/2SCb1t7. Acesso em: 28 abr. 2008.

RIBEIRO, José Silvestre. História dos estabelecimentos científicos, literários e artísticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. v. 1. Lisboa: Tipografia da Academia Real das Ciências, 1871.

RIZZINI, Carlos. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, 1500-1822: com um breve estudo geral sobre a informação. Rio de Janeiro: Kosmos, 1946.

SARAIVA, Luís Manuel Ribeiro. Garção Stockler e o “projeto sobre estabelecimento e organização da instrução pública no Brasil”. Disponível em: http://www.spce.org.pt/sem/6.pdf. Acesso em: 28 abr. 2008.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Aulas régias. In: ____ (coord.). Dicionário da história da colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994a. p. 82-84.

______. Direção geral dos estudos. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (coord.). Dicionário da história da colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994b. p. 260-261.

SOARES, Flávia dos Santos. O professor de matemática no Brasil (1759-1879): aspectos históricos. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: https://goo.gl/pnSkXL. Acesso em: 29 abr. 2008.


Documentos sobre este órgão podem ser encontrados nos seguintes fundos do Arquivo Nacional
Ver Secretaria de Estado dos Negócios do Império


Referência da imagem
Gravura de José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu. Arquivo Nacional, GRV_133

 

Fim do conteúdo da página