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João Batista de Lacerda

Publicado: Quinta, 09 de Fevereiro de 2023, 18h11 | Última atualização em Quarta, 29 de Março de 2023, 13h41 | Acessos: 2297

Nasceu na cidade de Campos dos Goitacazes, no estado do Rio de Janeiro, em 12 de julho de 1846. Filho de João Batista de Lacerda e de Maria d´Assumpção Cony de Lacerda, seu pai era médico e sócio proprietário da Casa de Saúde Santana, em sua cidade. Cursou o secundário no Colégio Pedro II, na corte, em 1864. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, tendo sido interno do médico Vicente Torres Homem, titular da cadeira de clínica médica, concluindo o curso, em 1870, com a apresentação da tese Das indicações e contraindicações da digitalis no tratamento das moléstias dos aparelhos circulatório e respiratório. Após formado, retornou para sua cidade onde exercia a clínica médica, mas não se afastou da pesquisa, tendo publicado o trabalho Infecção palustre e beribéri, em 1873. Retornou ao Rio de Janeiro naquele ano, onde assumiu interinamente a chefia de uma enfermaria na Santa Casa da Misericórdia. Em 1876, foi nomeado subdiretor da Seção de Antropologia, Zoologia e Anatomia após a reforma do Museu Nacional, pelo secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Tomás José Coelho de Almeida, seu conterrâneo. No museu, teve uma longa trajetória profissional, dedicando-se à pesquisa em diferentes áreas, como fisiologia, antropologia e microbiologia. Dentre seus projetos destacam-se o estudo do curare e das toxinas das plantas, anfíbios e batráquios brasileiros, e dos fósseis humanos, provenientes das descobertas dos sambaquis no litoral de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em 1883, envolveu-se em uma controvérsia científica ao apresentar, à Academia Imperial de Medicina e ao Congresso Médico Pan-Americano (1892), pesquisa sobre a etiologia da febre amarela, que creditava ao fungo febris flavae, sendo desacreditado. Colaborou com o fisiologista francês Louis Couty e obteve apoio do imperador d. Pedro II e do secretário dos Negócios da Agricultura para a criação do Laboratório de Fisiologia Experimental, que integrava a 1ª Seção do Museu Nacional. Em 1884, com a morte prematura de Couty, assumiu a direção do laboratório, e no ano seguinte foi nomeado diretor do Museu Nacional, cargo que ocupou até sua morte. Notabilizou-se pela descoberta da ação do permanganato de potássio como antídoto para as picadas de cobra, que alcançou repercussão nacional e internacional. Em 1889, esteve à frente da preparação e fornecimento da vacina anticarbunculosa aos municípios de Minas Gerais e às demais províncias do Império. Defendia a tese do branqueamento racial, tendo apresentado ensaio sobre mestiçagem no Brasil durante o Congresso Universal das Raças, realizado em Londres em 1911, em que exibiu a tela A redenção de Cam, de Modesto Broccos, do qual participara ainda o médico e antropólogo do Museu Nacional Edgard Roquette-Pinto (1884-1954). Teve lugar de destaque na institucionalização da medicina experimental no Brasil, participando de inúmeros eventos científicos, como o Congresso Médico Pan-Americano de Washington (1885), em que foi presidente honorário da Seção de Fisiologia, o Congresso Médico Latino-Americano de Buenos Aires (1904) e o Congresso Científico Pan-Americano do Chile (1908). Foi agraciado com a medalha de bronze na Exposição Universal de Paris, de 1878, e na Exposição Universal de Chicago, em 1893, e nomeado professor honorário da Faculdade de Medicina de Santiago do Chile. Foi membro de inúmeras sociedades científicas nacionais e internacionais, como Academia Imperial de Medicina, da qual foi presidente (1892-1895), a Sociedade de Geografia e a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, Sociedade de Higiene e Sociedade de Antropologia de Paris, Sociedade de Antropologia, Etnologia e Pré-História de Berlim, Sociedade de Antropologia, Etnologia e Psicologia de Florença, e Sociedade Médica Argentina. Foi colaborador do Jornal do Comércio, diretor da revista Lux e um dos redatores da União Médica, responsável pela seção de antropologia. Morreu no Rio de Janeiro, em 6 de agosto de 1915.

Daniela Hoffbauer
Julho de 2022

 

Bibliografia

BENCHIMOL, Jaime Larry. Dos micróbios aos mosquitos: febre amarela e a revolução pasteuriana no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Editora UFRJ, 1999.

LABORATÓRIO de Fisiologia Experimental. In: DICIONÁRIO da Administração Pública Brasileira da Primeira República (1889-1830), 2019. Disponível em: https://bit.ly/3a2Nv50. Acesso em: 30 jun. 2022.

LACERDA, João Baptista. In: ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA. Disponível em: https://bit.ly/3bFYcLc. Acesso em: 29 jun. 2022.

MUSEU Nacional. In: DICIONÁRIO da Administração Pública Brasileira do Período Imperial (1822-1889), 2015. Disponível em: [no prelo]. Acesso em: 30 jun. 2022.

MUSEU NACIONAL. Os diretores do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 2007-2008. Disponível em: https://bit.ly/3KlWifO. Acesso em: 21 jun. 2022.

NETO, Osvaldo Carneiro de Matos. Entre conceitos e contextos: João Baptista de Lacerda, as teorias raciais e o debate sobre miscigenação no início da República. Disponível em: https://bit.ly/3nIWBqB. Acesso em: 5 jul. 2022.

RONCOLATO Murilo. A tela A redenção de Cam e a tese de embranquecimento do Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3Illkuu. Acesso em: 7 jul. 2022. 

SCHWACZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SEYFERTH, Giralda. A invenção da raça e o poder discricionário dos estereótipos. Anuário Antropológico, v. 18, n. 1, p. 175-203, 1994. Disponível em: https://bit.ly/3ubMH4E. Acesso em: 29 jun. 2022.

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