Nasceu no litoral de Cabo Frio, na província do Rio de Janeiro, a bordo de um navio português com destino ao Brasil, em 1831. Era filho do português Joaquim José da Silva e de Saturnina do Carmo de Bittencourt da Silva. Iniciou seus estudos primários no Seminário de São José e no Colégio do Padre Ventura, e, em 1843, ingressou no curso de arquitetura da Academia de Belas-Artes. Foi discípulo de Grandjean de Montigny e participou de aulas de escultura com Marc Ferrez, recebendo, ao longo de sua formação, prêmios e menções honrosas. Foi nomeado, por concurso, arquiteto das obras públicas do município do Rio de Janeiro, exercendo o cargo de 1850 a 1859. Em 1858, obteve a cadeira de lente adjunto da aula de desenho na Escola Central, da qual se tornaria lente catedrático. Nesse ano, ingressou na Academia de Belas-Artes como substituto, na cadeira de arquitetura, nomeado por decreto em 1859. Em 1856, fundou a Sociedade Propagadora das Belas-Artes do Rio de Janeiro, cuja presidência caberia a Eusébio de Queiroz Coutinho Matoso Câmara. Criou o Liceu de Artes e Ofícios, mantido pela Sociedade Propagadora das Belas-Artes, que funcionava como uma escola noturna de educação artística, voltada ao ensino técnico-profissionalizante, com a finalidade de formar mão de obra especializada e qualificada para o desenvolvimento da indústria nacional. O liceu oferecia um curso completo de desenho, com disciplinas de aritmética, álgebra, geometria, física, química, geografia e história, tendo sido pioneiro no ensino profissional feminino, com curso gratuito e noturno. Foi diretor do Arquivo Nacional (1902-1910) e em sua gestão ocorreu a transferência da instituição para o prédio que pertencera ao Museu Histórico Nacional na praça da República, onde foram instaladas as oficinas gráficas e retomada a periodicidade das Publicações do Arquivo Nacional, iniciadas em 1886. Em seus relatórios, verifica-se a constante solicitação ao Ministério da Justiça para o recolhimento de documentos da administração pública federal ao Arquivo Nacional. Dentre as obras construídas no Rio de Janeiro em sua carreira como arquiteto, destacam-se a praça do Mercado, o Mercado da Harmonia (1855), o Mercado da Glória (1858), o terraço do paço de São Cristóvão (1862), a Casa dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia (1866), um chafariz da praça da Imperatriz (1871), as torres da Igreja do Sacramento (1871), a reforma neoclássica do Colégio Pedro II, a Escola Municipal da Freguesia da Glória (1875), Escola Municipal da Freguesia de Sta. Rita (1877), Escola Pública da Freguesia de São Francisco Xavier do Engenho Novo (1877), Escola dos Meninos Cegos (1896), Liceu de Artes e Ofícios (1878), e a sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro (1906). Ao longo de sua carreira recebeu diversas honrarias: arquiteto honorário da Casa Imperial (1862), oficial da Ordem de Santiago, de Portugal, comendador da Ordem da Rosa (1871), foi condecorado pela Academia de França e recebeu o título de professor honorário, integrando ainda a Congregação do Instituto de Belas-Artes de Nápoles. Além de ter sido arquiteto e professor, também escreveu poesia, cartas, artigos de revistas. Morreu em 1911.

Daniela Hoffbauer
abr. 2025

 

Bibliografia

BALTAR, Francisca M. T. R. Programas de escolas na segunda metade do século XIX: as escolas construídas pelo arquiteto Bethencourt da Silva. Dissertação (Mestrado em História da Arte) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999. Disponível em: https://shre.ink/MDCU. Acesso em: 7 abr. 2025.

 

BIELINSKI, Alba Carneiro. O Liceu de Artes e Ofícios: sua história de 1856 a 1906. 19&20, Rio de Janeiro, v. IV, n. 1, jan. 2009. Disponível em: https://shre.ink/MDZ7. Acesso: 10 abr. 2025. 

 

ESTEVÃO, S. N. de M.; FONSECA, V. M. M. da. A França e o Arquivo Nacional do Brasil. Acervo, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 81-108, 2011. Disponível em: https://shre.ink/eN4n. Acesso em: 8 maio 2025.

 

LOURENÇO, M. S.; DA FONSECA, V. M. M. Arte e história nas marcas gráficas do Arquivo Nacional. Acervo, Rio de Janeiro, v. 29, n. 1, p. 207-222, 2016. Disponível em: https://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/640. Acesso em: 9 maio 2025.

 

MINISTÉRIO da Agricultura, Indústria e Comércio (1906-1930). In: DICIONÁRIO da Administração Pública Brasileira da Primeira República (1889-1930), 2016. Disponível em: https://shre.ink/MeVi. Acesso em: 7 abr. 2025.

 

MINISTÉRIO da Indústria, Viação e Obras Públicas (1889-1930). In: DICIONÁRIO da Administração Pública Brasileira da Primeira República (1889-1930), 2016. Disponível em: https://shre.ink/MDiH. Acesso: 10 abr. 2025. 

 

NASCIMENTO. Ana Paula. Rio de Janeiro, o modelo a ser seguido? As exposições artísticas na capital. In: Espaços e a representação de uma nova cidade – São Paulo (1895-1929). Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: https://shre.ink/eNXb. Acesso: 8 maio 2025. 

 

SOBRAL FILHA. Doralice Duque. Bethencourt da Silva e a sublimidade da arte. 19&20, Rio de Janeiro, v. VIII, n. 1, jan./jun. 2013. Disponível em: https://shre.ink/MDyM. Acesso: 10 abr. 2025.

 

VENANCIO, R. P. Uma trajetória interrompida: o Arquivo Nacional na legislação republicana, 1889-1937. Acervo, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 59-76, 2013. Disponível em: https://shre.ink/eN4P . Acesso em: 8 maio 2025.