Nasceu na fazenda da Reserva, no município de Cruz Alta, depois Vila Rica, e atualmente denominado Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul, em 29 de junho de 1859. De família tradicional, cujas posses eram provenientes da pecuária e do comércio de muares, era filho do comendador Francisco Prates de Castilhos e de Carolina Prates de Castilhos. Seu avô materno era o capitão Fidélis Nepomuceno de Carvalho Prates, considerado um herói da Revolução Farroupilha, deputado constituinte da República Rio-Grandense e sobrinho-neto de d. Feliciano José Rodrigues Prates, primeiro bispo do Rio Grande do Sul. Fez seus primeiros estudos na escola de Guilherme Wellington, na Vila de Santa Maria, transferindo-se à capital da província para participar do curso preparatório no colégio Ferreira Gomes. Em 1877, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, período em que se aprofundou na filosofia positivista de Augusto Comte, com a qual tivera contato ainda em Porto Alegre. Foi um dos fundadores do jornal de propaganda republicana A Evolução (1879), tendo atuado também como redator do periódico A República (1878-1882), do Clube Republicano Acadêmico. Ao lado de um grupo de estudantes gaúchos, como Joaquim Francisco de Assis Brasil e Adolfo L. Osório, fundou o Clube Vinte de Setembro. Em 1882, já formado, retornou ao seu estado natal e atuou como advogado em Porto Alegre, além de filiar-se à campanha republicana mobilizada em torno do Clube Republicano, fundado em 1872. Participou da criação, em 23 de fevereiro de 1882, do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), ao lado de nomes como Joaquim Francisco Assis Brasil, José Gomes Pinheiro Machado, Antônio Augusto Borges de Medeiros, Venâncio Aires, Ernesto Alves, Álvaro Chaves, Demétrio Ribeiro, todos integrantes da elite local. Dirigiu o jornal A Federação (1884-1889), que se tornaria o órgão oficial do PRR, de difusão da propaganda republicana e do cientificismo positivista. Após a Proclamação da República foi secretário do Interior do governo provisório do Rio Grande do Sul, do marechal José Antônio Correia da Câmara, visconde de Pelotas, nomeado por Deodoro da Fonseca, do qual se afastaria em pouco tempo. Em meio à crise política do poder local, foi convidado pelo presidente da República a assumir o governo do estado, tendo indicado para o seu lugar o general-de-divisão Júlio Anacleto Falcão da Frota, membro do PRR. Assumiu o cargo de primeiro vice-governador, tendo Antão Gonçalves de Farias como segundo-vice-governador, e ocupou ainda a Superintendência dos Negócios do Interior. Em nova crise política, exonerou-se do cargo, ao lado de correligionários do PRR, por divergências com o governo central, tendo sido eleito deputado para a Assembleia Constituinte (1890-1891). Integrou a chamada Comissão dos 21, encarregada de dar parecer sobre a Constituição provisória, composta por um representante de cada estado. Apoiou a candidatura do marechal Deodoro da Fonseca, eleito presidente pelo Congresso Constituinte, logo após promulgada a Constituição, o que causou dissidência de integrantes do PRR, que apoiaram o representante do Partido Republicano Paulista (PRP) Prudente José de Morais e Barros. Participou da comissão reunida para elaboração do projeto da Constituição estadual, ao lado de Ramiro Fortes de Barcelos e Joaquim Francisco de Assis Brasil, tendo este último se recusado a assinar o projeto por desacordo com o que foi apresentado. Promulgada a Constituição estadual em 14 de julho de 1891, foi eleito governador do estado na mesma sessão. Em 12 de novembro de 1891, renunciou ao governo do estado por seu alinhamento ao marechal Deodoro da Fonseca, em virtude do golpe de 3 de novembro, que fechou o Congresso Nacional e instaurou o estado de sítio. Com a renúncia de Deodoro da Fonseca, assumiu o vice-presidente Floriano Peixoto, que o reconduziu ao governo do estado em 1892, após um acordo político para impedir o avanço das forças de apoio de Gaspar Silveira Martins, líder do Partido Federalista do Rio Grande do Sul (PF). Renunciou ao cargo, transferido ao vice-presidente do estado, Vitorino Carneiro Monteiro, que convocaria novas eleições estaduais. Foi mais uma vez eleito para o governo do estado, assumindo em janeiro de 1893. Durante seu governo enfrentou a Revolução Federalista (1893-1895), que atingiu os estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em que se confrontaram federalistas, os chamados gasparistas ou maragatos, e republicanos, denominados castilhistas ou pica-paus. O conflito foi controlado somente no governo de Prudente de Morais (1894-1898), com a vitória das tropas federais, a assinatura do tratado de paz, em 23 de agosto de 1895, e a anistia aos revoltosos. Continuou no exercício do cargo até 1898, elegendo seu sucessor político, Antônio Augusto Borges de Medeiros. Manteve-se na direção do PRR, tendo sido um dos mais proeminentes líderes políticos do estado. Morreu em Porto Alegre, em 24 de outubro de 1903.

 

Daniela Hoffbauer
Ago. 2020

Bibliografia

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