A Diretoria do Serviço de Propaganda e Expansão Econômica do Brasil no Estrangeiro foi criada pelo decreto n. 6.668, de 3 de outubro de 1907, com o objetivo de divulgar informações relacionadas à expansão econômica do Brasil na Europa. Nesse sentido, cabia ao órgão empregar os melhores meios de disseminação de notícias para promover a difusão de dados oficiais e das vantagens naturais oferecidas pelo país ao trabalho e ao capital; refutar, por meio de publicidade, os escritos que contivessem falsidades a respeito do Brasil; promover exposições de fotografias, gravuras, desenhos, mapas, objetos e produtos nacionais; fornecer informações, distribuir memórias, guias ou impressos e realizar conferências, entre outras atribuições (Brasil, 1907, p. 7493-7494).
O órgão, pertencente ao Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, era formado pelo diretor-geral, ao qual estavam subordinados o consultor, o secretário, os delegados, os agentes de 1ª e 2ª classes, os escriturários e auxiliares. Sua sede ficava em Paris, onde havia anexos um museu comercial e um escritório de informações. A diretoria possuía delegacias nas cidades em que fosse conveniente um serviço mais ativo de propaganda e defesa dos interesses do Brasil, tendo funcionado em Gênova, Viena, Antuérpia, e prevista a instalação de mais uma em Barcelona. Da mesma forma, nas cidades de “importância especial” seriam mantidas agências, como Berlim, Marselha, Turim e Nápoles (Brasil, 1907a, p. 142).
A preocupação do governo e das elites com a imagem do Brasil no exterior e a realização de propaganda com o fim de atrair imigrantes e capitais internacionais e divulgar os produtos nacionais remontam ao século XIX. Para tanto, políticos e escritores se empenharam em disseminar um retrato favorável, capaz de enfraquecer a visão negativa projetada por muitos viajantes europeus em seus relatos sobre o país (Skidmore, 1989, p. 142-144).
Grandes palcos para essa propaganda foram as exposições universais realizadas desde 1851, caracterizadas “como exibições do progresso da indústria, dirigidas para a instrução das massas” (Barbuy, 1996, p. 212). Reunindo delegações de várias partes do mundo, essas exposições representaram uma oportunidade de exibir produtos e realizações dos ramos da indústria, da agricultura, da mineração e do artesanato, além de servirem como meio de celebração de efemérides nacionais e internacionais (Hardman, 1988, p. 51; 60). A partir de 1861, sob o patrocínio do governo monárquico, o Brasil iniciou a sua participação nesses eventos, com a organização de exposições nacionais, que serviam para selecionar os produtos e materiais que deveriam ser apresentados em suas congêneres universais.
No período republicano o esforço propagandístico do governo ganhou novo impulso, especialmente na primeira década do século XX, momento de crescimento da economia e de busca por uma maior integração do país no contexto capitalista internacional. Tal propaganda esteve alicerçada nas transformações voltadas para o ‘progresso nacional’, como a reestruturação dos portos, o combate aos problemas sanitários, a expansão dos meios de comunicação e a reforma do espaço urbano no Rio de Janeiro, com o objetivo de transformar a antiga sede do governo em metrópole 'moderna e civilizada' (Benchimol, 1992, p. 227; Borges, 2007, p. 94).
Nesse momento, os problemas relativos à colonização e à imigração, como o aumento das fugas de imigrantes das propriedades rurais, receberam destaque. Em 1907, o governo federal voltou a intervir nos serviços relativos à imigração que havia transferido para os estados em 1892, a partir da regulamentação do serviço de povoamento do solo nacional e a criação da Diretoria-Geral do Serviço de Povoamento e de um serviço de propaganda do país no estrangeiro (Petrone, 2006, p. 108-109; Borges, 2007, p. 96). Além da realização da propaganda, previa-se que a Diretoria do Serviço de Propaganda e Expansão Econômica do Brasil no Estrangeiro atuasse na fiscalização nos portos de embarque com a finalidade de impedir que viessem para o Brasil pessoas que não preenchessem as condições exigidas pela legislação referente à imigração (Borges, 2007, p. 96; Brasil, 1907a, p. IX).
A ação do órgão se deu de forma associada ao Museu Comercial, instituição privada instalada no Rio de Janeiro em 1907 para a organização da Exposição Nacional do ano seguinte. A diretoria auxiliava o museu na articulação de contatos e na distribuição dos seus boletins para vários países (Borges, 2007, p. 101-102).
De acordo com relatório ministerial de 1907, os trabalhos da diretoria concentraram-se na propaganda de produtos, especialmente café e mate, e na participação em eventos, tais como feiras e exposições (Brasil, 1907a, p. 143-144). O órgão também foi responsável pela edição de obras como mapas, cartões postais e outras publicações, contribuindo, ainda, para divulgar uma imagem de país 'moderno e civilizado' no exterior (Borges, 2007, p. 102).
Em 1908, os trabalhos da diretoria foram organizados em três seções: 1ª Seção – Museu Comercial, Informações e Depósito, 2ª Seção – Expediente e Arquivo e 3ª Seção – Contabilidade. Nesse ano, o museu comercial anexo ao órgão recebeu a visita de duas mil pessoas e foram publicadas obras como: Bases regulamentares para o serviço de povoamento do solo, Carta geográfica do Brasil, Análise do mate e vantagens sobre seu uso e Salubrité du Brésil (Brasil, 1909, p. 182).
Em 1909, a diretoria foi transferida para o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, instalado em agosto desse ano. Em outubro, o decreto n. 7.637, modificou a sua denominação para Comissão de Expansão Econômica do Brasil. Ainda em 1909, o decreto n. 7.673, de 18 de novembro, instituiu a Seção de Publicações e Biblioteca, à qual cabia, dentre outras funções, fazer a remessa de publicações para a comissão distribuir no exterior.
A comissão foi extinta pelo decreto n. 8.403, de 30 de novembro de 1910. No entanto, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio continuou a promover a propaganda do Brasil no exterior, com a instalação de escritórios em Paris e em Genebra, que funcionaram até, pelo menos, 1916, quando foi encontrada a última referência sobre eles nos relatórios ministeriais pesquisados (BRASIL, 1916). Em 1923 foi criado um novo órgão encarregado pela propaganda dos produtos brasileiros, o Museu Agrícola e Comercial.
Angélica Ricci Camargo
Set. 2018
Fontes e bibliografia
ABREU, Mauricio de. A Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO; Jorge Zahar Editor, 1987.
BARBUY, H. O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 4, p. 211-261, 1996.
BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann tropical: a renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes/Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural/Divisão de Editoração, 1992. (Biblioteca Carioca, v. 11).
BORGES, Maria Eliza. L. Representações do Brasil Moderno para ler, ver e ouvir no circuito dos Museus Commerciais Europeus, 1906-1908. História, São Paulo, v. 26, p. 92-117, 2007. Disponível em: https://goo.gl/BftTk7. Acesso em: 24. set. 2018.
BRASIL. Decreto n. 6.668, de 3 de outubro de 1907. Aprova as instruções para o Serviço de Propaganda e Expansão Econômica do Brasil no Estrangeiro. Diário Oficial da República dos Estados Unidos do Brasil. Poder Executivo, Rio de Janeiro, 17 out. 1907. Seção 1, p. 7493-7494.
______. Decreto n. 7.637, de 30 de outubro de 1909. Modifica a denominação da Diretoria do Serviço de Propaganda e Expansão Econômica do Brasil no Estrangeiro. Coleção das leis da República dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, v. 2, p. 685, 1913.
______. Decreto n. 8.403, de 30 de novembro de 1910. Dissolve a Comissão de Expansão Econômica do Brasil. Coleção das leis da República dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, v. 2, p. 1444, 1915.
______. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de estado da Agricultura, Indústria e Comércio José Rufino Beserra Cavalcanti no ano de 1916, v. 1. Rio de Janeiro: s.e., 1916. Disponível em: <https://goo.gl/f527qV>. Acesso em: 24 set. 2018.
______. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de estado dos Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas Miguel Calmon du Pin em 1907, v. 1. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. Disponível em: <https://goo.gl/E2tdZ1>. Acesso em: 24 set. 2018.
______. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de estado dos Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas Miguel Calmon du Pin em 1909, v. 1. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909. Disponível em: <https://goo.gl/a8p5JN>. Acesso em: 24 set. 2018.
PETRONE, Maria Theresa. Imigração. In: FAUSTO, Boris (coord). História Geral da Civilização Brasileira: O Brasil republicano. 8. Ed, t. III, v. 9. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 104-146, 2006.
HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: a modernidade na selva. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
SKIDMORE, Thomas E. Preto no Branco: Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. 2ª ed. Tradução de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
Documentos sobre este órgão podem ser encontrados nos seguintes fundos do Arquivo Nacional
BR_RJANRIO_23 Decretos do Executivo - Período Republicano
Referência da imagem
Fotografias Avulsas. BR_RJANRIO_O2_0_FOT_440_0001