Sumário
Num dos lados deste recinto estava a porta forte,
sempre fechada, e sempre, de dia e de noite, guardada
por sentinelas, somente se abria quando era preciso
sair para o trabalho. Para além dessa porta ficava o
mundo luminoso e livre, viviam as pessoas normais.
Mas aquém do recinto, esse mundo, afigurava-se-nos
como uma história inverossímil. Na parte de dentro
ficava um mundo especial, que não se parecia já nada
com o outro, que tinha as suas leis especiais, os seus
trajos, as suas regras e costumes, uma casa de morto
de além-túmulo, e uma vida […] como não existe em
lugar algum, e pessoas singulares. Pois é esse recanto
especial que me proponho descrever.
F. Dostoievski.
Recordações da casa dos mortos
.
Tradução e prefácio de Fernão Neves, 2ª edição, Rio de
Janeiro: Livraria Castilho, 1924