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Carlos Ribeiro Justiniano Chagas

Publicado: Quinta, 21 de Abril de 2022, 10h11 | Última atualização em Quarta, 17 de Agosto de 2022, 11h09

Carlos Ribeiro Justiniano Chagas nasceu em uma fazenda de café próxima de Oliveira, Minas Gerais, em 8 de julho de 1878. De família tradicional de proprietários de terras, dedicados à pecuária e ao cultivo de cana-de-açúcar e café, era filho de José Justiniano Chagas e de Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. Estudou no internato Colégio São Luís, dirigido por jesuítas em Itu, no interior de São Paulo, no Ginásio São Francisco, em São João del Rei, Minas Gerais, e no curso preparatório da Escola de Minas de Ouro Preto. Reprovado para ingresso no curso de engenharia, entrou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1897. Em 1902, iniciou pesquisa sobre a malária no Instituto Soroterápico Federal, sob orientação de Oswaldo Cruz, para elaboração de tese de doutorado exigida para conclusão do curso de medicina, no ano seguinte. Em 1904, foi nomeado médico da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), e trabalhava ainda em consultório particular no Centro do Rio de Janeiro. Em 1905, atuou, por designação de Oswaldo Cruz, no combate à epidemia de malária entre os trabalhadores de uma usina hidrelétrica em Itatinga, São Paulo, da Companhia Docas de Santos. Em 1907, combateu nova epidemia de malária, que afetava as obras de canalização de água realizadas pela Inspetoria-Geral de Obras Públicas, em Xerém, no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, foi designado para a chefia de uma comissão de estudos sobre a profilaxia da malária (1906-1909) que acometia os trabalhadores do novo ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil, na região norte de Minas Gerais, auxiliado pelo médico Belisário Pena. Suas pesquisas levaram à descoberta de um parasita e de uma nova doença, o Trypanosoma cruzi, causador da tripanossomíase americana ou, como ficaria conhecida, doença de Chagas, além do seu vetor, o inseto ‘barbeiro’, os sintomas clínicos e sua prevenção. Em 1908, foi nomeado pesquisador assistente do Instituto Oswaldo Cruz, e anunciou sua descoberta, o que deu início à sua projeção no cenário científico nacional e internacional. Entre 1912 e 1913, participou de expedição científica sobre as condições médico-sanitárias nos centros produtores de borracha na região da bacia amazônica, ao lado dos médicos Pacheco Leão e João Pedro de Albuquerque, solicitada pela Superintendência da Defesa da Borracha. Em 1917, foi nomeado diretor do Instituto Oswaldo Cruz, em substituição a Oswaldo Cruz, que falecera. Foi designado pelo presidente Epitácio Pessoa (1919-1922) diretor-geral de Saúde Pública (1919-1926), órgão que havia sido transformado em Departamento Nacional de Saúde Pública numa ampla reforma sanitária, empreendida em 1920. Integrou a Liga Pró-Saneamento do Brasil, em 1918, que reuniu intelectuais, médicos, engenheiros, professores e uma ampla gama de reformistas e membros da elite política brasileira em torno de uma campanha nacionalista pelo saneamento dos sertões. A doença de Chagas tornou-se o símbolo do chamado movimento sanitarista, que colocava em questão as condições sanitárias da população do interior do país e o descaso do Estado. Sua descoberta sobre a doença de Chagas foi questionada pelo microbiologista austríaco Rudolf Kraus, diretor do Instituto Bacteriológico de Buenos Aires (1913-1921) e por alguns pesquisadores brasileiros, polêmica que teve grande repercussão nos anos de 1922 e 1923, e seria superada somente após sua morte. Foi membro de inúmeras sociedades científicas, como a Sociedade de Medicina da Bahia e a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (1909), Academia Brasileira de Medicina (ABM) (1910), Sociedade Brasileira de Ciências (1916) e Sociedade Americana de Medicina Tropical (1919). Duas vezes indicado ao prêmio Nobel, em 1913 e 1921, presidiu a Sociedade Brasileira de Higiene, 1923, e foi representante brasileiro no Comitê de Higiene da Liga das Nações, desde 1922. Em 1925, tornou-se o primeiro titular da recém-criada cadeira de medicina tropical, da Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro. Deixou inúmeros trabalhos sobre a doença de Chagas, dentre os quais Profilaxia do impaludismo (1906); Nova entidade mórbida do homem (1910); Nova entidade mórbida do homem: resumo geral de estudos etiológicos e clínicos (1911); Processos patogênicos da tripanossomíase americana (1916); e Forma cardíaca da tripanossomíase americana, em coautoria com Eurico Vilela (1922). Morreu no Rio de Janeiro, em 8 de novembro de 1934.

Dilma Cabral
Set. 2021

 

Bibliografia

KROPF, Simone P. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação (1909-1962). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009.

KROPF, Simone P.; LACERDA, Aline. Carlos Chagas: um cientista do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. (edição bilíngue).

KROPF, Simone P. Carlos Chagas e os debates e controvérsias sobre a doença do Brasil (1909-1923). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 16, suplemento 1, p. 205-227, 2009.

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