Nasceu em Mimoso, município de Santo Antônio de Leverger, estado de Mato Grosso, em 5 de maio de 1865. Filho de Cândido Mariano da Silva, de ascendência europeia e indígena, e Claudina Lucas Evangelista, descendente de indígenas das etnias terena e bororo. Tornou-se órfão muito cedo, sem chegar a conhecer o pai, morto por varíola em 1864, nem a mãe, morta em 1867. Ficou sob os cuidados de seu avô materno, João Lucas Evangelista, e de sua madrinha e tia-avó, Antônia Rosa da Silva, falantes de português, além de bororo e terena. Aos sete anos mudou-se para Cuiabá, capital da província, para realizar seus estudos, indo morar com o tio paterno, Manuel Rodrigues da Silva Rondon, que homenagearia adotando seu nome a partir de 1890. Realizou estudos nas escolas Mestre Cruz e Professor João B. de Albuquerque, ingressando no Liceu Cuiabano, antiga escola normal, em 1879. Concluídos seus estudos, em 1881, ingressou como voluntário no 3º Regimento de Artilharia a Cavalo, em Cuiabá. Em 1881, transferiu-se para o Rio de Janeiro, servindo ao 2º Regimento de Artilharia de Campanha, e, em 1884, ingressou na Escola Militar, sendo promovido a alferes-aluno em 1888. No ano seguinte ingressou na Escola Superior de Guerra, onde foi aluno e seguidor de Benjamin Constant, professor de matemática e um dos mais renomados propagandistas dos ideais republicanos e da filosofia positivista no Brasil. Em 1889, participou do movimento de deposição da Monarquia, levado por Constant, figura de destaque na instauração da República e membro do Governo Provisório. Concluído o curso de engenheiro militar e de bacharel em matemática e ciências físicas, foi nomeado professor substituto da Escola Militar, mas integrou-se primeiramente aos trabalhos da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, sob a chefia do major Gomes Carneiro, incumbida de concluir a linha telegráfica, iniciada ainda no Império, que ligaria Cuiabá ao estado de Goiás, passando pelo rio Araguaia. Em 1891, findos os trabalhos, retornou ao Rio de Janeiro para assumir o lugar de professor substituto de astronomia e mecânica da Escola Militar. No ano seguinte, afastou-se do cargo para retomar as atividades na Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, ocupando sua chefia. Terminada a tarefa, em 1898, retornou ao Rio de Janeiro, trabalhando na Intendência-Geral da Guerra como auxiliar técnico. De 1900 a 1906, chefiou a nova Comissão Construtora de Linhas Telegráficas e Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, criada pelo presidente Afonso Pena (1906-1909), que seria conhecida por Comissão Rondon. A comissão tinha por finalidade estender ligações telegráficas do Rio de Janeiro ao estado do Amazonas e região do Acre, recentemente adquirido pelo Brasil, promovendo a integração e defesa dessa área de fronteira, além de realizar o inventário científico do território percorrido. Nesse período, aproximou-se de tribos indígenas da região, como os bororós, que auxiliaram os trabalhos da comissão, além de outros, como terenas, quiniquinau e cadiuéu, oiafés e nhanbiquara. Realizou o levantamento de terras pertencentes aos índios da região de Ipegue e Cachoeirinha, em conflito constante com fazendeiros, obtendo do governo de Mato Grosso o reconhecimento de propriedade indígena. Em 1910, assumiu a direção e organizou o Serviço de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPI), criado pelo presidente Nilo Peçanha (1909-1910), voltado para a assistência e proteção da população indígena, que estabeleceu uma política de integração do índio ao sistema produtivo e à sociedade ‘civilizada’. Em 1912, criou no SPI a seção de Cinematografia e Fotografia, destinada a registrar material fotossensível de suas expedições científicas, com o objetivo de divulgar e obter apoio de autoridades, intelectuais e camadas urbanas. Foi nomeado para organizar e acompanhar a expedição do rio Paraguai ao Amazonas, realizada pelo presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt (1901-1909), conhecida como a expedição Roosevelt-Rondon (dezembro de 1913 a abril de 1914), acompanhado por naturalistas americanos que pretendiam coletar material para o American Museum of Natural History, de Nova Iorque. Em 1917, foi designado diretor-geral do Serviço de Conclusão da Carta de Mato Grosso, cujo objetivo era elaborar um novo mapa para o estado de Mato Grosso e regiões circunvizinhas. A confecção desse mapa ficou a cargo do coronel Jaguaribe Gomes de Matos, que o concluiria somente em 1952. Em 1919, foi nomeado diretor de Engenharia do Exército, cargo do qual exonera-se em 1925. Convidado pelo presidente Epitácio Pessoa (1919-1922), ao lado de Paulo de Morais Barros e Ildefonso Simão Lopes, integrou a comissão destinada a inspecionar a atuação da Inspetoria de Obras Contra as Secas e analisar as causas da seca que afetava a região do Nordeste, em 1922. Assumiu o comando das forças federais nas operações de combate aos revoltosos paulistas no Paraná e Santa Catarina, movimento iniciado em São Paulo em 1924. Chefiou e organizou a Inspeção de Fronteiras (1927-1930), criada com o objetivo de realizar estudo das condições de povoamento e segurança na região da Guiana Francesa até o Uruguai, em cujas expedições participaram cientistas como o médico Gastão Cruls, que publicaria o livro A Amazônia que eu vi, em 1930. Não aderiu à Revolução de 1930, que depôs o presidente em exercício, Washington Luís (1926-1930), e impediu a posse da chapa vencedora das eleições, composta por Júlio Prestes de Albuquerque e Vital Soares, dando início ao governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1934). Foi detido pelas forças revolucionárias no Rio Grande do Sul, sob ordens do líder tenentista Miguel Costa. Solicitou reforma do Exército após ser acusado de corrupção por Juarez Távora, um dos líderes e articuladores da Revolução de 1930, que criticou publicamente sua atuação à frente da Comissão Telegráfica. Foi mantido no cargo de inspetor de Fronteiras pelo presidente Vargas, que o designou ainda para presidir a Comissão Mista Peru-Colômbia (1934-1938), para cumprimento do Tratado de Paz entre os dois países, em disputa pela posse da região de Letícia, e o Conselho Nacional de Proteção aos Índios (1939 - 1955), criado com a atribuição de elaborar a política nacional indigenista. Em 1952, apresentou proposta, a Getúlio Vargas, de criação do Parque Indígena do Xingu, estabelecido somente em 1961 pelo presidente Jânio Quadros (1961). No ano seguinte, participou da inauguração do Museu do Índio, cujo acervo era constituído pelas coleções etnográficas reunidas pela Seção de Estudos do SPI e pela Biblioteca General Rondon. Recebeu inúmeras homenagens nacionais e internacionais ao longo de sua vida, por sua atuação junto às populações indígenas e pelo reconhecimento do território nacional. Em 1934, o III Congresso Internacional de História das Ciências, realizado em Portugal, deu seu nome ao meridiano 52 W, que vai da foz do rio Essequibo, na costa da Guiana Inglesa, até a foz do rio da Prata. Em 1953, a povoação do rio Vermelho, em Mato Grosso, recebeu o nome de Rondonópolis, em sua homenagem. Em 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia, elevado a estado em 1981. Em 1957, foi indicado para o prêmio Nobel da Paz, pelo Explorer's Club, de Nova Iorque. Publicou diversos trabalhos em temáticas como cartografia, linguística, geologia, antropologia e etnografia, destacando-se os 110 relatórios da produção científica da “Comissão Rondon: rumo ao Oeste” (1942), “A etnografia e a etnologia do Brasil em revista” (1946), “Esboço gramatical, vocabulário, lendas e cânticos dos índios ariti (parici)” (1948) e “Glossário geral das tribos silvícolas de Matogrosso e outras da Amazônia e do Norte do Brasil (1948)”, ambas com o etnólogo João Barbosa de Faria, e a obra em três volumes Índios do Brasil (1955). Morreu na cidade do Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1958.

Daniela Hoffbauer
Dilma Cabral
Fev. 2022

 

 

 

 

Bibliografia

FUNDAÇÃO VINGT-UN ROSADO. Memorial da seca. Disponível em: https://bit.ly/3InUxvY. Acesso em: 17 mar. 2022.

JAGUARIBE, Beatriz; BERNARDINO, Maria Gabriela Bernardino. A conclusão da Carta de Mato-Grosso e os ideários do Brasil moderno. Assis, SP, v. 15, n. 1, p. 315-342, jan./jun. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3Juj18w. Acesso em: 15 mar. 2022.

ROHTER, Larry. Rondon, uma biografia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.

RONDON, Cândido. In: DICIONÁRIO Histórico-Biográfico da Primeira República (1889-1930). Disponível em: https://bit.ly/3KnfZn3. Acesso: 6 jan. 2022.

RONDON, Cândido Mariano da Silva. In: ERMAKOFF, George (org.). Dicionário biográfico ilustrado de personalidades da história do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2012. p. 1.104-1.105.

TACCA, Fernando de. A imagética da Comissão Rondon: etnografias fílmicas estratégicas. In:  ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 25., 2001. Disponível em: https://bit.ly/3CSSOhg. Acesso em: 14 mar. 2022.