Nasceu em Belém, Pará, em 16 de junho de 1858. Era filho de Ambrósio Pinheiro Correia e de Carolina Serzedelo Correia, ambos descendentes da elite aristocrática de Viana do Castelo, em Portugal. A morte precoce de seu pai, aos 11 anos, trouxe dificuldades financeiras para a família, mas graças às relações sociais que possuíam, sua educação básica foi feita no prestigiado Seminário Menor da Diocese. Em 1874 mudou-se para o Rio de Janeiro. Ingressou na Escola Militar, tendo sido um aluno brilhante do curso de ciências físicas e matemáticas, graduando-se com mérito em 1879. Fez o curso de artilharia e ingressou no curso de estado-maior de primeira classe, concluído em 1881, e formou-se em engenharia militar, em 1888. Fez carreira no ensino militar, em que assumiu diversos cargos, culminando com sua nomeação, pelo imperador Pedro II, para catedrático da cadeira de biologia da Escola Superior de Guerra (1889). Na Escola Militar fez contato com Benjamin Constant Botelho de Magalhães e o ideário positivista, tornando-se um de seus principais discípulos, além de um propagandista entusiasta dos movimentos abolicionista e republicano. Na proclamação da República, esteve no Campo de Santana ao lado dos militares republicanos, como Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca, sendo encarregado de escoltar e assegurar a integridade física de líderes monarquistas, como visconde de Ouro Preto. Com o advento da República, foi nomeado secretário de Benjamin Constant, secretário de Estado de Negócios da Guerra e segundo vice-presidente do governo provisório, até ser designado para fazer parte da comissão encarregada de elaborar a proposta da reforma de ensino das escolas militares. Em 1890 foi nomeado presidente do estado do Paraná, cargo que ocupou por curto período (de agosto a novembro). Foi eleito deputado constituinte pelo estado do Pará (1890), tendo assumido a legislatura regular (1890-1891 e 1903-1905), pelo Distrito Federal (1894-1896), pelo Mato Grosso (1906-1908), e novamente pelo Pará (1912-1914). Na grave crise política que marcou o governo de Deodoro da Fonseca (1889-1891), que levaria ao golpe de 3 de novembro, que fechou o Congresso Nacional e instaurou o estado de sítio, apoiou a subida ao poder do vice-presidente, Floriano Peixoto. Após a renúncia de Deodoro da Fonseca, foi nomeado ministro das Relações Exteriores (de fevereiro a junho de 1892), além de interino da pasta de Justiça e Negócios Interiores (de março a abril de 1892), sendo transferido para o  Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas  (de junho a dezembro de 1892). Acumulou ainda, interinamente, o Ministério da Fazenda (de agosto de  1892 a abril de 1893), no qual seria finalmente efetivado. No Ministério das Relações Exteriores, destacou-se pela solução do conflito com a Argentina na questão das Missões, assinou tratados de comércio com França e Alemanha e definiu as bases dos acordos a serem firmados com Estados Unidos e Portugal. Sua curta gestão à frente da pasta da Indústria, Viação e Obras Públicas foi marcada pela conclusão das obras de modernização do porto de Santos e pela reforma da estrada de ferro Central do Brasil. Na Fazenda empreendeu uma reforma bancária, com a fusão dos bancos da República e do Brasil, além de instalar o Tribunal de Contas da União, em 1890, na gestão de Rui Barbosa à frente da pasta. Exonerou-se do Ministério da Fazenda, ao lado do ministro da Marinha Custódio de Melo, por divergir da decisão do governo de retirar do TCU a competência de impugnar despesas consideradas ilegais, e da condução do processo de pacificação da Revolução Federalista (1893 – 1895), no Rio Grande do Sul, em que Floriano Peixoto apoiava o governo de Júlio de Castilhos. Foi preso por nove meses na Casa de Correção e na Fortaleza Conceição, e demitiu-se de seu posto de tenente-coronel e de catedrático da Escola Militar, em decorrência da repressão florianista por ocasião da Revolta da Armada (1893-1894), liderada pelo contra-almirante Custódio de Melo, da qual não participou. Nesse período, além de deputado federal pelo Pará, assumiu o cargo de secretário na gestão de José Pais de Carvalho no governo do mesmo estado (1898). Na presidência de Manuel Ferraz de Campos Sales (1898-1902), foi reconduzido ao serviço ativo do Exército, com a patente de tenente-coronel, e à cátedra da Escola Militar, pelo decreto n. 688, de 18 de setembro de 1900, ocasião em que recusou os proventos. Foi secretário da Escola Superior de Guerra, até sua transferência em 1905 para Mato Grosso, em virtude de seu apoio à revolta dos alunos da Escola Militar, ocorrida em 14 de novembro de 1904, que teria atingido outros estados. Foi nomeado, pelo presidente Nilo Peçanha, prefeito do Distrito Federal (1909-1910), tendo realizado obras de melhoramentos em vários bairros do subúrbio, reformado os jardins da Quinta da Boa Vista e o Teatro Municipal, e construído a Praça Floriano Peixoto. Ainda, criou o Serviço Sanitário da Instrução Pública, a Escola Dramática e a Escola Nilo Peçanha, e idealizou o teleférico do Pão de Açúcar. Assumiu também o comando da 4ª Região de Inspeção Permanente do Exército, sediada em Fortaleza (1910-1912). Ao fim de mais um mandato de deputado federal, retirou-se da vida pública. Nacionalista, foi um dos representantes da corrente de pensamento industrialista do final do século XIX, e defensor de um projeto de desenvolvimento pautado na combinação de estímulo à agricultura e à indústria, por meio de uma política protecionista. Publicou trabalhos como O rio Acre (1899) e O problema econômico do Brasil (1903) e foi sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Ficou conhecido pelos contemporâneos como ‘Sentinela Vigilante da República’. Morreu no Rio de Janeiro, em 5 de junho de 1932.

Daniela Hoffbauer
Maio 2020

 

Bibliografia

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