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Quintino Bocaiúva (Quintino Antônio Ferreira de Sousa)

Publicado: Quinta, 20 de Abril de 2023, 10h28 | Última atualização em Quinta, 18 de Abril de 2024, 11h32 | Acessos: 1622

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, na província do Rio de Janeiro, em 4 de dezembro de 1836. Era filho de Quintino Ferreira de Sousa e Maria Candelária Moreno y Alagon, de origem argentina. Em 1849, mudou-se para São Paulo e iniciou  o curso de humanidades anexo à Faculdade de Direito, custeado pelo tio materno Pedro Moreno d’Alagão, em virtude da morte de seu pai naquele ano. Em São Paulo, exerceu as funções de tipógrafo e revisor, e estreou na carreira jornalística com a publicação de poemas e artigos no jornal literário O Acaiaba. Em 1853, fundou com Antônio Ferreira Viana, então estudante da Faculdade de Direito de São Paulo, o periódico político literário A Honra, em que defendia o ideário republicano. Conforme costume da época, em 1851 adotou o nome indígena Bocaiúva, que significa uma espécie nativa de palmeira, como afirmação de seu nativismo. Em 1854, em virtude de dificuldades financeiras, retornou ao Rio de Janeiro. Iniciou carreira de dramaturgo, tendo encenado as peças teatrais Trovador (1857), As colisões de um ministro (1857), Onfália (1860) e Mineiros da desgraça (1861), além de traduzir O dominó azul, Minhas duas mulheres, Tramoia, O bandoleiro, Um pobre louco, Pedro Favilla e Cáudio Manuel. Atuou como censor do Conservatório Dramático, instituição voltada para o controle da produção teatral na corte, que teve ainda Machado de Assis como parecerista. Naquele momento, ganhava destaque como crítico literário, dramaturgo e censor, mas também como jornalista. Colaborou nos jornais Diário do Rio de Janeiro (1854) como crítico teatral e literário, no Correio Mercantil (1860-1864) e no periódico literário A Semana. Foi editor do jornal O Paraíba (1857-1859), de Augusto Emilio Zaluar, de Petrópolis, e em 1860 assumiu a direção do Diário do Rio de Janeiro, que parara de ser impresso diariamente em 1858, em substituição a José de Alencar. Nesse jornal foi correspondente no Senado imperial, notabilizando-se pela defesa dos ideais republicanos e por suas análises na coluna “Semana Política”, abordando temas como a Guerra do Paraguai (1864-1870), o casamento civil, a defesa da imigração, a liberdade de opinião, a instabilidade política e a crise financeira que o país atravessava. Durante a guerra, atuou como correspondente na Argentina, fazendo cobertura sobre a região do Prata. Além do jornalismo, desempenhou atividades comerciais como a exploração de contratos de fornecimento ao Exército durante a guerra, o arrendamento de estrada de ferro no Paraguai e a criação da Sociedade Imperial de Imigração (1866), em associação com o cubano Bernardo Caymari. Em 1861, tornou-se membro da maçonaria na loja paulista Amizade, conforme muitos dos que participaram do movimento republicano naquele período. Nos anos de 1866 e 1867, atuou nos Estados Unidos como representante do governo imperial para promoção da imigração para o Brasil. Em 1870, fundou o Clube Republicano do Rio de Janeiro – que no mesmo ano se transformou no Partido Republicano –, ao lado de Saldanha Marinho, Lafaiete Rodrigues Pereira e Aristides da Silveira Lobo, além de dissidentes do Partido Liberal, após a crise política decorrente da queda do terceiro gabinete Zacarias de Góis e Vasconcelos

 (1868). Integrou a comissão diretora do clube e participou da fundação do jornal A República, que se tornou o órgão oficial do Partido Republicano. Redigiu, ao lado de Salvador de Mendonça, o Manifesto Republicano, publicado na primeira edição do jornal, em 3 de novembro de 1870. Em 1872, integrou a comissão central criada para unificação das organizações republicanas, que assumiu a direção do A República, e no ano seguinte foi criado o Clube Republicano Federal. Em 1874, com o fim da circulação do periódico, passou a atuar no jornal O Cruzeiro; em 1881, se tornou redator-chefe do jornal O Globo, que deixaria de circular em 1883; ainda neste ano, participou da fundação do periódico O País, que teria papel importante na vida política brasileira e do qual seria o redator-chefe. Foi candidato a deputado geral em 1881, 1886 e 1888, e para o Senado, sem êxito, em 1886 e 1887,  mesmo ano em que foi delegado no Congresso Republicano Federal, realizado na corte. Nesse congresso, foi publicado um manifesto em defesa da abolição da escravatura e reafirmado o programa liberal-democrático de 1870. Participou ainda dos congressos republicanos, realizados em 1888 e 1889, sendo eleito nesse último chefe nacional do Partido Republicano. Participou ativamente da conspiração republicana que reuniu civis e militares na residência do marechal Deodoro da Fonseca, na qual teria sido incumbido da organização do futuro ministério republicano. Integrou o Governo Provisório como secretário de Estado das Relações Exteriores, acumulando ainda a pasta da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, até a chegada de seu titular, Demétrio Ribeiro, que assumiu em dezembro. À frente da pasta, atuou para o reconhecimento diplomático do novo regime pelos outros países; na I Conferência Internacional Americana (1889); no Acordo Aduaneiro firmado com os Estados Unidos (1891); e nas negociações em torno da região de Palmas, reivindicada pela Argentina, que resultou no Tratado das Missões, assinado em 1890 e rejeitado pela comissão especial da Câmara dos Deputados. Essa questão foi resolvida somente em 1895, a favor do Brasil. Desincompatibilizou-se do ministério em 1890, quando foi eleito senador pelo estado do Rio de Janeiro para a Assembleia Nacional Constituinte. Assumiu a legislatura ordinária em 1891, reelegendo-se para as legislaturas 1892-1893, 1894-1896, 1897-1899 e 1900. Por ocasião do golpe de Estado que fechou o Congresso Nacional e instaurou o estado de sítio, articulado pelo ministro Henrique Pereira de Lucena, levando à renúncia do marechal Deodoro da Fonseca, foi preso ao lado de outros parlamentares considerados de oposição. Em 1893, esteve à frente da fundação do Partido Republicano Federal, ao lado de nomes como Francisco Glicério, Aristides Lobo e Saldanha Marinho, integrando a comissão executiva provisória. Ainda em 1893, foi signatário do manifesto de senadores em defesa do presidente Floriano Peixoto, no contexto da Revolta da Armada, rebelião contra o governo federal sob liderança do contra-almirante Custódio José de Melo. Apoiou a candidatura de Prudente de Morais (1894-1898) para a presidência da República, mas passou a fazer oposição ao seu governo pelo jornal O País, em virtude da concessão de anistia aos revoltosos para o fim da Revolução Federalista (1893-1895). Em 1900, elegeu-se presidente do estado do Rio de Janeiro, renunciando à sua vaga ao Senado, num esforço de superação da crise política da elite fluminense, em virtude de disputas das diferentes forças, e da crise financeira que acometia a região em decorrência da decadência do setor agroexportador cafeeiro do Vale do Paraíba e da região serrana. Teve seu nome indicado para a presidência da República, na sucessão de Campos Sales (1898-1902), mas a convenção nacional do Partido Republicano Federalista aprovou a candidatura de Rodrigues Alves, de São Paulo. Em 1903, após o fim do mandato na presidência do estado, foi reeleito para o Senado, mas afastou-se temporariamente da política. Foi mais uma vez eleito ao Senado para a legislatura 1909-1912 e escolhido vice-presidente da casa. Na campanha presidencial de 1910, apoiou a candidatura oficial encabeçada pelo marechal Hermes da Fonseca e pelo presidente de Minas Gerais, Venceslau Brás Pereira, contra Rui Barbosa, que teve como vice Manuel Joaquim de Albuquerque Lins, presidente do estado de São Paulo, no que ficaria conhecido como campanha civilista, que percorreu vários estados. Em 1910, participou da fundação do Partido Republicano Conservador (PRC), ao lado de Pinheiro Machado e outros nomes que apoiaram a candidatura de Hermes da Fonseca, sendo eleito presidente da comissão executiva. Recebeu de d. Pedro II o título de comendador da Ordem da Rosa, mas recusou a honraria por sua posição política contrária à monarquia. Teve enorme destaque nos meios jornalístico, literário, político e teatral, foi um dos mais importantes propagandistas do regime republicano de sua época, chegando a receber a alcunha de Patriarca da República. Deixou uma vasta e variada produção bibliográfica, em que se incluem trabalhos jornalísticos, estudos, opúsculos, conferências, peças teatrais e traduções, tais como O trovador (1850), Estudos críticos e literários (1858), Sofismas constitucionais ou O sistema representativo entre nós (1860), A opinião e a Coroa (1861), A comédia constitucional (1861), Os nossos homens (1864), A família (1868) e A Crise da lavoura (1868). Morreu no Rio de Janeiro, em 11 de julho de 1912.

Daniela Hoffbauer
Jul. 2022

Bibliografia

BOCAIÚVA, Quintino. In: DICIONÁRIO Histórico-Biográfico da Primeira República (1889-1930). Disponível em: https://bit.ly/2KTDjNZ. Acesso em: 7 jul. 2022.

BOCAYUVA, Quintino. In: ERMAKOFF, George (org.). Dicionário biográfico ilustrado de personalidades da história do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2012. 

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a república que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

CONSTITUIÇÃO de 1891. In: DICIONÁRIO da Administração Pública Brasileira da Primeira República (1889-1930), 2016. Disponível em: https://bit.ly/3BiN3ut. Acesso em: 25 jul. 2022.

CURTY, Mellina de Fátima Neres de Sousa. Quintino Bocaiúva: da dramaturgia e jornalismo às práticas políticas (1870-1912). Tese (Doutorado em História) – Centro de Ciências Sociais, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3sqnPoi. Acesso em: 25 out. 2022.

GRINBERG, Keila. Quintino Bocaiúva. In: VAINFAS, R. (dir.). Dicionário do Brasil imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

QUINTINO BOCAIÚVA. Senado Federal. Disponível em: https://bit.ly/3eXJ4L0. Acesso em: 24 out. 2022.

SILVEIRA, Isadora Loreto. Quintino Bocaiúva entre a solidariedade americana e o interesse nacional: a Questão de Palmas/Missões. In: Caderno de Ensaios/Instituto Rio Branco. v. 2.  Brasília: Instituto Rio Branco, 2017, p. 18-38. Disponível em: https://bit.ly/3UbJhth. Acesso em: 25 out. 2022.

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