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o estabelecimento de um governo

democrático, que pressupunha maior

participação popular, porque possibilitava

que muitas das decisões fossem tomadas em

âmbito local, aproximando os indivíduos da

gestão da coisa pública e distinguindo-os,

dessa maneira, como verdadeiros cidadãos

da República (Mattos, 1989, p. 169).

O crescimento da campanha republicana

em todo o país e o quadro político

instável, permeado por crises pontuais

entre o governo e grupos religiosos e

militares, abriram caminho para o golpe

de 15 de novembro de 1889, comandado

pelo marechal Deodoro da Fonseca, que

depôs o imperador d. Pedro II. Uma das

primeiras medidas do governo provisório, o

decreto n. 1, proclamou a República como

forma de governo e instituiu o princípio

federativo, determinando que as províncias

passassem a ser chamadas de estados.

Outras determinações importantes tomadas

nesse período inicial e compreendidas no

programa republicano foram a ampliação do

número de eleitores, a extinção do padroado

e a liberdade de culto, a reforma do Código

Penal e a criação de uma nova pasta, o

Ministério da Instrução Pública, Correios

e Telégrafos, pelo decreto n. 346, de 19 de

abril de 1890.

A instabilidade marcou os primeiros

governos republicanos, presididos pelo

marechal Deodoro da Fonseca, que

renunciou ao cargo em 1891, e pelo

marechal Floriano Peixoto. Nesse período, a

República passou por uma crise econômica

conhecida como “encilhamento”, decorrente

do incentivo à emissão de moeda por alguns

bancos e à criação de sociedades anônimas,

que resultou em forte especulação

financeira, aumento do custo de vida e

falência de bancos e empresas. Além disso,

foi afetada por contestações políticas

como a Revolta da Armada e a Revolução

Federalista, iniciada no Rio Grande do Sul e

que depois se irradiou para outros estados.

Com a eleição do primeiro presidente

civil, Prudente de Morais, em 1894, as

oligarquias dos estados economicamente

mais importantes assumiram diretamente o

controle do governo. Essa situação perdurou

até 1930, com exceção do governo do

marechal Hermes da Fonseca entre 1910 e

1914, e ficou conhecida como “política do

café com leite”. Essa “política” consistia

no revezamento dos estados de São Paulo

(maior produtor de café) e Minas Gerais

(maior produtor de leite) na indicação dos

candidatos à Presidência.

A consolidação desse poder oligárquico,

entretanto, começou apenas com o sucessor

de Prudente de Morais, Campos Sales,

que inaugurou a chamada “política dos

governadores”, um arranjo político no

qual o governo central sustentava os

grupos dominantes dos estados que, em

troca, apoiavam a política do presidente

da República. Esses “arranjos” eram

reproduzidos no nível estadual entre os

governadores e os proprietários rurais mais

influentes dos municípios, os “coronéis”

(pois muitos deles haviam recebido

essa patente da Guarda Nacional), e

representavam um verdadeiro obstáculo

ao exercício dos direitos políticos, já que

os chefes locais acabavam controlando os

eleitores, ao trocar votos por favores. A isso

se somavam outras fraudes, com o intuito

de manter ou colocar algum candidato em

determinado cargo político, e o próprio

desinteresse da população, como atesta o

baixo número de votantes nesse período.

Mas já na década de 1920 essa política

passou a sofrer forte oposição, verificando-

se o descontentamento de setores do

Exército, da população urbana e de grupos

oligárquicos regionais que ajudavam a

sustentá-la. Em 1922, ocorreu a revolta

dos tenentes no Rio de Janeiro, seguida

de rebeliões militares no Rio Grande

do Sul, em 1923, e São Paulo, em 1924.

Nesse último ano, muitos dos rebeldes

que participaram desses movimentos se

reuniram na Coluna Prestes, que percorreu

várias partes do país durante dois anos,

travando combates com as forças oficiais

contra o governo das oligarquias. Outro foco

de contestação surgiu em São Paulo, com a

criação do Partido Democrático, em 1926,

que congregou forças políticas do estado

descontentes com a situação do país.

Além da atuação desses grupos, esse

primeiro período da história republicana

assistiu ao crescimento do movimento

operário, que acompanhou o incremento

das atividades industriais no Brasil.

Inspirados por ideias trazidas pelos

imigrantes estrangeiros, como anarquismo,

socialismo e comunismo, esses trabalhadores

se organizaram em entidades que lutaram

ativamente por meio de greves e outras