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Na verdade, o valor desse tipo de agricultura, voltado para o mercado interno,

não pode ser subestimado, dado seu papel essencial tanto na ocupação territorial em

localidades afastadas do litoral, quanto na organização do trabalho familiar e no

atendimento às necessidades dos núcleos urbanos que se formavam. Autores como

Ciro Cardoso, inclusive, procuraram descrever um modo de produção escravista-

colonial interno, alterando significativamente a ênfase da circulação para a produção

e rompendo com o “sentido” da colonização e suas variações na historiografia. Tal

abordagem busca estabelecer uma particularidade à produção colonial, que, apesar de

vinculada ao setor externo, não deixa de possuir estruturas internas capazes de gerar

uma dinâmica própria. Tais estruturas estão diretamente ligadas à existência de dois

setores agrícolas claramente estruturados dentro da colônia: um voltado para

mercadorias exportáveis e outro realizado essencialmente pelos escravos nas fazendas,

buscando o seu próprio sustento. Os autores dessa corrente defendem a importância

dos mecanismos de reprodução escravista como essenciais no processo de acumulação

endógena, negando a ênfase dada à transferência do excedente para a metrópole

(Fragoso, 1992, p. 61).

Esse rompimento com a tradição historiográfica iniciada por Caio Prado não é

necessariamente, para nosso estudo, excludente ou contraditória. O que precisamos

extrair daqui é que a agricultura colonial se equilibrava dentro de uma diversa gama

de influências que, por sua vez, estabeleciam suas condições e características. No

entanto, uma distinção deve ficar clara: se, por um lado, a visão de um “sentido” para

a colonização enfatiza a influência da metrópole e seus agentes na organização da

colônia a partir de razões comerciais e de extração de excedentes, por outro, o

estabelecimento de uma agricultura voltada para o mercado interno, mesmo que

munida de características próprias, parece resultado natural do processo colonizador.

Assim, apesar de ambas facetas coexistirem, para nós parece mais importante nos

aproximarmos dos mecanismos relativos às estruturas do Estado português sendo,

portanto, mais próximas dos autores que enxergam a agricultura como parte daquela

economia colonial cujos alicerces estão na organização pela metrópole. Em síntese, a