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acontece à revelia das decisões do Estado, sem seguir um planejamento central.

Assim, não se podem desprezar na formação do Brasil colonial as estruturas

burocráticas e administrativas trazidas pelos portugueses. Sobre o processo de

ocupação territorial, o autor é taxativo ao condenar o pretenso grau de casualidade, ao

afirmar que

Com as vilas se instaurava nas praias e no sertão, a palavra rígida,

inviolável e hierática das Ordenações. A colonização e a conquista do

território avançam pela vontade da burocracia, expressa na atividade

legislativa e regulamentar. Desde o primeiro século da história

brasileira, a realidade se faz e se constrói com decretos, alvarás e

ordens régias (Faoro, 2000, p. 168).

Tanto Raymundo Faoro quanto Caio Prado e Sérgio Buarque fazem parte de

um cânone da historiografia nacional que buscou entender o Brasil em que viviam a

partir do seu passado. Nos últimos anos, entretanto, pôde ser verificada uma nova

maneira de conceber e abordar a temática da administração pública no país. Trabalhos

recentes têm se interessado em demonstrar o Brasil colonial como parte de um

império que era marcado pela heterogeneidade e pela diversidade cultural, onde os

agentes e funcionários régios tinham a necessidade de se adequar às características

locais ao mesmo tempo que deviam zelar pelos interesses da Coroa. A existência de

muitos centros politicamente autônomos, conforme nos mostram as reflexões de

Antonio Manuel Hespanha, abria espaço a soluções políticas diversas, sendo esta uma

característica da época moderna (Hespanha, 2007b, p. 1).

Hespanha enfatiza que a imagem de uma monarquia centralizada não condizia

fielmente com a realidade, mas que servia tanto para as pretensões metropolitanas,

que enxergavam, na admissão de forças periféricas, uma forma de redução do “brilho

da empresa imperial”, como também para a construção, por parte da colônia, de uma

história da independência que enfatiza o nacionalismo e a luta contra um inimigo

externo, o império português colonizador e tirano. Ao comentar a historiografia

brasileira citada antes, Hespanha afirma que