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estabeleciam as punições de acordo com o seu arbítrio. A utilização desse procedimento para
punir um marinheiro faltoso dentro do
dreadnought Minas Gerais
desencadeou uma segunda
revolta na Marinha no ano de 1910, fazendo com que alguns de seus homens, agora os marujos,
voltassem canhões contra a capital do país. E esse segundo motim soterrou por completo a
credibilidade e o prestígio da instituição, contribuindo para o seu isolamento político até o final da
Primeira República.
As desconfianças do governo republicano em relação a uma força armada que por duas
vezes foi palco de revoltas e de ameaças à capital dificultava a concessão de recursos necessários
para a aspirada modernização naval, principalmente para a compra de novos equipamentos.
Assim, se as alegadas crises econômicas conjunturais do país tiveram importância para as
dificuldades financeiras no Ministério da Marinha, os receios políticos foram igualmente decisivos.
A década de 1920, período de revoltas militares, é bastante ilustrativa nesse caso. O
período de 1922 a 1927 conheceu uma diminuição das verbas para as duas forças armadas, sendo
a falta de confiança do governo nos militares notória, inclusive, para os representantes
estrangeiros. Exemplo dessas cismas pode ser verificado quando um adido americano informava
ao seu país que o serviço aéreo do Exército estava paralisado porque o presidente Artur Bernardes
não confiava naquela força e não queria arriscar ser bombardeado. A Marinha, onde o movimento
tenentista nos anos 1920 obteve repercussão extremamente pálida em comparação ao Exército
,
teve a munição dos seus
dreadnoughts
reduzida por ordem do próprio ministro Alexandrino, com
o intuito de diminuir a chance de bombardeios caso houvesse um motim da tripulação
(WALDMANN JÚNIOR, 2012, p. 10). Assim, com a impossibilidade de incorporar inovações
imprescindíveis para a sua modernização, a Marinha brasileira viu suas pretensões à hegemonia
marítima regional encalharem quase por completo.