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(…) Acredito que essa confraternização vai sendo conseguida de modo rápido e

firme. Para isso concorreu a falta de raízes sólidas dos passados governantes no

sentimento afetivo do pessoal e a sinceridade patriótica unida ao espírito

superior de tolerância revelados pelo novo governo.

Muito diversa e muito mais grave foi a situação da Marinha, em seguida à

revolução de 1893, em que a nação dividiu-se lutando apaixonadamente, quer de

um lado, quer do outro, por aquilo que cada um entendia ser uma questão de

honra a defender (BRASIL, 1932, p. 15-16).

A revolta de 1893 trouxe uma série de desconfianças em relação à força, o que se refletiu

em suas dotações orçamentárias, principalmente se atentarmos para os anos seguintes à rebelião.

Enquanto no Exército o número de oficiais foi mais alto do que o previsto, a Marinha da primeira

década republicana teve o quantitativo de oficiais e de praças reduzido em relação ao período

imperial, claro reflexo da diminuição de sua influência política no período. (CARVALHO, 2005, p.

31).

O decréscimo do prestígio político também se refletiu nos salários, tanto de oficiais,

quanto de praças. A necessidade de equiparações salariais entre membros da Marinha e do

Exército não era um tema raro nos relatórios ministeriais da Primeira República. Se atentarmos

para a primeira década republicana, entre os anos 1889 e 1895, o Exército conheceu um aumento

de 122,5% em seus salários, enquanto o da Marinha foi de 53% (CARVALHO, 2005, p. 56). Apesar

de os reajustes da Marinha terem sido muito superiores aos do funcionalismo civil

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, a diferença

em relação aos do Exército não podiam deixam de causar descontentamento nos chefes navais.

Por curto período de tempo, os ventos pareceram tornar-se favoráveis à instituição,

principalmente com a chegada e a posse de símbolos que expressavam a grandiosidade nacional,

os

dreadnoughts

encomendados na primeira gestão do ministro Alexandrino. Mas, seguindo a

mesma estrada de muitos processos de modernização no Brasil, onde a população não participava

da mudança, mas a padecia (FAORO, 1992, p. 14), na Marinha não foi muito diferente. Embora

detentora de modernas máquinas de guerra, as relações entre oficiais e marujos permaneciam

presas às práticas do passado imperial, ainda fresco na memória de muitos.

A afronta e a submissão dos marinheiros aos oficiais passavam por práticas como o

recrutamento forçado para o preenchimento dos navios, o racismo e os castigos físicos aplicados

nos ‘tribunais de convés’, onde os comandantes das embarcações julgavam as faltas e

43. Os funcionários civis nesse mesmo período tiveram um aumento salarial de 11,4%. Os professores catedráticos

das escolas de Direito, de Medicina, de Minas e do Colégio Pedro II conheceram um aumento salarial de 17,6%

(CARVALHO, 2005, p. 56).