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Comentando os magros recursos destinados à pasta ao longo dos anos, o ministro civil
João Pedro da Veiga Miranda escrevia ao presidente Epitácio Pessoa, em seu relatório do ano de
1921:
Se a Marinha aceitava com tamanha resignação o regime da parcimônia, é claro
que se tornaria o campo preferido de tal virtude governativa. Daí o estado de
espírito desalentado do pessoal da Armada, submetido a vexames cotidianos,
havendo, conforme referem os oficiais, necessidade de despenderem dinheiro do
próprio bolso até para a compra de estopa e pomada, se queriam ter limpo os
metais dos seus navios…
(…) A tradição da exiguidade de recursos chegou ao ponto de atribuir-se às duas
iniciais M. M. do Ministério da Marinha a significação sarcástica de – Ministério
da Miséria (BRASIL, 1922, p. 91-92).
O mesmo ministro aponta também o que parece ser a verdadeira razão para o descaso do
governo para com a Marinha, e a diferença de tratamento que era conferido às duas forças:
Causas múltiplas, sendo algumas remotas e de notória repercussão histórica,
contribuíram para o mal estar em que se vinham deixando estiolar as mais belas
energias da Marinha. A revolta de 1893 não teve apenas o efeito de cindi-la em
dois grupos, com o inevitável cortejo de preferências e rivalidades: desmantelou-
a materialmente, sem dar-lhe o direito de, no momento, exigir da nação os
indispensáveis sacrifícios para a sua reconstituição imediata.
Por outro lado, dir-se-ia que, longe de compreender esses melindres e procurar
dissipá-los, guardaram os políticos e parlamentares certo ressentimento para
com a Marinha, deixando-o espelhar-se nas dotações orçamentárias deste
Ministério, preferidas sempre para campo de ação de nossos financistas nos seus
propósitos de economia (BRASIL, 1922, p. 2).
Essa declaração descortina um motivo que raramente aparece nos relatórios dos demais
ministros para explicar as poucas verbas do ministério: a revolta de oficiais de 1893. O evento que
também ficou conhecido como Segunda Revolta da Armada, foi um dos elementos determinantes
para os baixos orçamentos concedidos à pasta da Marinha ao longo do tempo, assim como a
diminuição do seu prestígio frente ao Exército.
Desde a Proclamação da República, a Marinha viu-se inferiorizada frente ao Exército, visto
que não participou efetivamente do processo de deposição da monarquia e nem o recebeu bem.
Os anos iniciais da República, período de consolidação do regime, conheceram divergências
políticas entre as duas forças. Em 1891, por exemplo, o almirante e ministro Custódio José de
Melo, por ocasião das eleições para o governo constitucional, preparava o apoio da Marinha a
Prudente de Morais ao mesmo tempo em que o Exército prometia dissolver o Congresso caso o