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Cadernos Mapa n. 3 ▪ Entre caminhos e descaminhos

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Economia e os de planejamento na de Planejamento. Assim, as medidas ligadas à concentração

de estruturas e à aglutinação de ministérios visavam menos melhorar o funcionamento da

máquina pública e o desempenho do funcionalismo do que contribuir para a redução do déficit

público com uma economia de recursos considerável para o governo (ibid., 1992, p. 69-70)

.

Com isso, a reforma não se propôs de fato a atacar aquele que seria o principal problema da

administração pública, sua tradição patrimonialista, sendo na verdade apenas mais uma

estratégia de combate ao déficit público, ou seja, “um instrumento administrativo a serviço da

economia”, o que explicaria “os prazos exíguos, a ausência de dados, a falta de planejamento, a

solidão dos responsáveis pela consecução da reforma e os controles de última hora” (ibid.,

1992, p. 74-75).

Além disso, o livro

Estrutura e organização do Poder Executivo

, já citado aqui, também

é uma referência para entendermos as reformas Collor, uma vez que sua proposta é analisar o

quadro de crise que havia se instalado na administração pública após

seu

governo e debater

alternativas capazes de promover a “recuperação da dignidade da função pública no país”

(Andrade; Jaccoud, 1993, p. 23). Segundo os organizadores, “a administração federal sofreu o

impacto desorganizador da reforma Collor, mal pensada e pior executada”, gerando um cenário

de crise que foi agravado pelas dificuldades financeiras do Estado e pelo aumento do

corporativismo no serviço público (ibid., p. 26). Os autores que contribuem

nesta obra reiteram

a visão dos organizadores

ao arrolar os diversos aspectos que permearam a mal-sucedida

reforma de Collor, demonstrando seus perniciosos efeitos. O que torna esse trabalho

interessante é que foi realizado no âmbito da Enap, um órgão governamental, e publicado no

ano seguinte ao

impeachment

do presidente Collor, sob as consequências latentes das

transformações recém-promovidas.

Por fim, podemos entender a importância dos elos entre Estado, governo e

administração nas reformas desse período por meio da avaliação de Marco Aurélio Nogueira

(1990, p. 5), que credita parte do fracasso de Collor a uma

grave confusão entre Estado, governo e administração, base da não

diferenciação entre reforma administrativa e reforma do Estado, como se o

Estado pudesse ser reduzido essencialmente a sua dimensão burocrática e

governamental (...).

Os planos de governo de Collor foram interrompidos quando, em 1992, o presidente

foi alvo de diversas denúncias de corrupção que culminaram na instauração do

processo de

impeachment

. Após sua aprovação

pela Câmara dos Deputados no fim de setembro, o

presidente

foi afastado

do cargo, que passou ao ser ocupado pelo vice-presidente Itamar

Franco. Meses depois, em dezembro, dada a iminência da aprovação do

impeachment

também

pelo Senado, Collor anunciou oficialmente sua renúncia, e coube a Itamar dar continuidade ao

mandato presidencial até as próximas eleições, em 1994 (Alves, 2004, p. 186).

Poucos dias após assumir a presidência, ainda como interino, Itamar Franco promoveu

as primeiras alterações na estrutura de órgãos do Poder Executivo, por meio da medida

provisória n. 309, de 16 de outubro de 1992. Nela, a organização administrativa da Presidência

da República é alterada com a transformação da Secretaria de Governo em Casa Civil e com a