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Cadernos Mapa n. 3 ▪ Entre caminhos e descaminhos

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dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.

Muitas das determinações ali previstas continuam vigentes, uma vez que a lei permanece em

vigor, mesmo com alterações. No entanto, na época, suas disposições foram vistas como um

contrassenso em relação à política de demissões, uma vez que permitiam a servidores

ocupantes de cargos regidos pela CLT migrar para o novo regime estatutário, que era

teoricamente mais oneroso aos cofres públicos (Lima Júnior, 1998, p. 17).

Outro componente importante da política reformista de Collor foi o estabelecimento

de um plano de privatização de empresas estatais denominado Programa Nacional de

Desestatização (PND), instituído pela lei n. 8.031, de 12 de abril de 1990, com o intuito de: a)

reordenar a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada

atividades indevidamente exploradas pelo setor público; b) contribuir para a redução da dívida

pública, concorrendo para o saneamento das finanças do Estado; c) permitir a retomada de

investimentos nas empresas e atividades que viessem a ser transferidas à iniciativa privada; d)

contribuir para a modernização do parque industrial do país, ampliando sua competitividade e

reforçando a capacidade empresarial nos diversos setores da economia; e) permitir que a

administração pública concentrasse seus esforços nas atividades em que a presença do Estado

fosse fundamental para a consecução das prioridades nacionais, entre outros.

O programa planejava privatizar tantos as empresas controladas direta e indiretamente

pela União, criadas pelo Poder Executivo, quanto aquelas que, mesmo originárias do setor

privado, haviam sido incorporadas ao longo dos anos pela União por estarem endividadas com

o Estado. Assim, foi elaborada inicialmente uma lista de 31 empresas a serem privatizadas,

sendo que, de acordo com dados do atual Ministério do Planejamento, até setembro de 1992,

quando da aprovação do

impeachment

do presidente Collor, 14 destas empresas já haviam

passado ao setor privado.

Não é difícil notar que a política de privatizações era essencial no programa de

reformas de Collor. Afinal, ao vender à iniciativa privada as empresas públicas e dar fim a uma

série de monopólios estatais, o governo buscou romper diretamente com o modelo anterior de

intervenção do Estado na economia e, assim, redirecionar seus recursos para outras funções

sociais consideradas prioritárias. Além disso, como já vimos, o déficit público era visto como

um dos principais componentes da crise econômica do país, e a privatização ajudaria não só

por meio dos recursos obtidos diretamente com a venda das empresas, mas também com a

consequente redução de custos. No entanto, como ressaltam Armando Pinheiro e Fábio

Giambiagi, tal iniciativa não foi exclusividade do governo Collor. O processo de deterioração das

contas públicas e as restrições macroeconômicas impostas pelo modelo de substituição de

importações pelas crises econômicas nas décadas de 1970 e 1980 já haviam levado o governo

do general Figueiredo a criar, em 1981, a Comissão Especial de Desestatização, que, até 1984,

privatizou vinte empresas. No entanto, as privatizações de empresas públicas ocupavam uma

posição secundária na política de contenção da participação do Estado na economia, tendo

como foco apenas empresas de pequeno porte, a maioria delas controladas pelo BNDES. Essa

mesma política foi seguida durante o governo Sarney, somando, na década de 1980, um total

de 38 empresas privatizadas (Pinheiro, Giambiagi, 1992, p. 33). A novidade do governo Collor

foi, justamente, que pela primeira vez uma política de privatizações foi regida por uma lei