

Caderno Mapa n.8- A Secretaria de Estado do Negócios da Marinha
períodos onde o Partido Liberal estava à frente do governo, como nos anos de 1845 e 1846, ou nas
reformas propostas pelo chamado gabinete da conciliação, mas que só foram completamente
executadas nos anos seguintes.
Com Rodrigues Torres à frente do ministério em 1837, iniciam-se discussões de fundo acerca de
reformas necessárias nas repartições fiscais de Marinha descentralizadas e herdadas em grande parte do
nosso período colonial. As dificuldades orçamentárias e, porque não, os embates políticos do período,
impediram reformas imediatas, que amadureceram e só foram realizadas no início dos anos 40, quando
os conservadores voltaram ao governo após um breve interregno liberal. As reformas de 1845 e 1846,
que reorganizaram as contadorias e intendências, embora tenham ocorrido durante os anos de
administração liberal, foram todas gestadas e solicitadas durante os mandatos dos conservadores
Rodrigues Torres, Rêgo Barros e Sena Pereira. Para entendermos este aparente paradoxo devemos levar
em conta dois elementos:
o primeiro seria relativo à máxima da política partidária imperial: “Não
há nada mais conservador que um Luzia no poder”. Tal frase, repetida por cronistas contemporâneos e
por historiadores até hoje, ressalta a semelhança que ambos os partidos apresentavam frente a opinião
pública quanto a suas formas de governar. E mais importante, o nome escolhido para assumir a pasta
da Marinha no gabinete liberal de 1844 fora justamente o de Antônio Francisco de Paula de Hollanda
Cavalcanti e Albuquerque, uma das principais figuras do partido em Pernambuco e grande proprietário
de terras, que dividia a hegemonia local justamente com um de seus antecessores na pasta, o
conservador Sebastião do Rêgo Barros.
O domínio que a família Cavalcanti de Albuquerque exercia sobre o Partido Liberal pernambucano
e seus acordos com os conservadores da província, liderados por Rêgo Barros, para a concessão de
cargos e outras vantagens, criou uma cisão entre liberais de Pernambuco já em 1842, que organizariam
um novo partido e que culminaria, em 1848, na Revolução Praieira, encabeçada justamente por estes
liberais radicais, agora organizados no Partido da Praia. A partir dessa dissidência podemos observar
que a política imperial, além de sua divisão entre partidos, possuía nuances muito mais complexas
quanto às divisões das bancadas provinciais, que não nos cabe aprofundar neste artigo. Gostaríamos de,
neste ponto, apenas frisar a dubiedade presente ao menos na figura de Hollanda Cavalcanti, responsável
pela pasta da Marinha entre os anos de 1844 e 184
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Mas, para além da política pernambucana, que dá conta apenas em parte da explicação desta
hipótese, gostaríamos de nos remeter mais uma vez ao historiador Ilmar Mattos e seu livro “O tempo
Saquarema”. Em oposição à historiografia clássica, que sempre se preocupou em privilegiar ora os
elementos de semelhança, ora os elementos de diferença entre os Partidos Conservador e Liberal, o
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Para mais informações acerca da Revolução Praieira ver Marson, 1987.
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