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Artur Neiva

Publicado: Quinta, 27 de Julho de 2023, 00h00 | Última atualização em Quinta, 24 de Agosto de 2023, 10h56 | Acessos: 487

Nasceu em Salvador, em 22 de março de 1880. Era filho de João Augusto Neiva e de Ana Adelaide de Paço Neiva. Seu pai foi jornalista, dirigiu inúmeros periódicos, como Gazeta da Bahia, O Correio e Telégrafo, e elegeu-se deputado provincial, estadual e federal em sucessivos mandatos. Fez os primeiros estudos no colégio São Salvador e o curso universitário na Faculdade de Medicina da Bahia, transferindo-se para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que concluiu em 1903. Nesse ano, ainda estudante, trabalhou na Inspetoria de Profilaxia da Febre Amarela, na campanha de erradicação do mosquito transmissor da doença, promovida pela Diretoria-Geral de Saúde Pública sob a direção de Oswaldo Cruz. Em 1906, ingressou no Instituto Soroterápico Federal, onde realizou pesquisas na área de entomologia, especialmente de insetos transmissores da doença de Chagas, sendo efetivado como pesquisador em 1908. Participou, ao lado de Carlos Chagas, do combate à malária na bacia do rio Xerém, na Baixada Fluminense, onde a Inspetoria Geral das Obras realizava trabalho de captação de água para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro. Viajou para Washington, Estados Unidos, para concluir seus estudos em entomologia, por indicação de Oswaldo Cruz. Em 1912, com o médico sanitarista Belisário Pena, realizou uma expedição científica pelo Nordeste e Centro-Oeste do país, onde estudaram as condições sanitárias e os problemas de saúde existentes nestas regiões, trabalho que deu origem ao relatório Viagem científica pelo norte da Bahia, sudoeste de Pernambuco, sul do Piauí e norte e sul de Goiás, publicado em 1916. Em 1914, apresentou à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a tese de livre-docente de história natural e parasitologia Revisão do gênero Triatoma, das espécies transmissoras na doença de Chagas. Nesse ano, participou da organização de uma filial do Instituto Oswaldo Cruz em Pelotas, no Rio Grande do Sul, que teve curta existência. Em 1915 e 1916, instalou e dirigiu a seção de Zoologia e Parasitologia no Instituto Bacteriológico, do Departamento de Higiene Argentino. Em 1916, foi convidado pelo governo do estado a assumir o Serviço Sanitário de São Paulo (1917-1920), à frente do qual atuou na elaboração do Código Sanitário Rural, aprovado em 1917, e na reorganização de instituições científicas, como o Instituto Butantan; estimulou a criação do Horto Oswaldo Cruz, destinado ao cultivo de plantas medicinais; estruturou 41 hospitais na capital e 119 no interior do estado para atendimento aos acometidos da epidemia de gripe espanhola de 1918, além de organizar o serviço de combate à sífilis. Participou da Liga Pró-Saneamento do Brasil, criada em 1918 com o objetivo de realizar campanha nacionalista pelo saneamento dos sertões, suscitada a partir do relatório da expedição científica pelo Nordeste e Centro-Oeste que reuniu intelectuais, médicos, engenheiros, professores e uma ampla gama de reformistas e da elite política brasileira. Em 1920, a convite do Instituto Kitasato, realizou uma série de conferências no Japão sobre medicina e higiene no Brasil, além de conhecer a organização sanitária japonesa. Seguiu em missão oficial, tendo viajado para Noruega, Filipinas e Havaí para estudo da profilaxia da lepra. De 1923 a 1926, foi diretor do Museu Nacional. Em sua gestão, criou o periódico científico Boletim do Museu Nacional e um horto de plantas medicinais, além de promover a retomada das pesquisas do zoólogo Peter Wilhelm Lund, em Lagoa Santa, Minas Gerais. Em 1924, integrou uma comissão científica constituída pelo governo do estado de São Paulo, ao lado de Ângelo da Costa Lima e Edmundo Navarro de Andrade, incumbida de debelar a chamada ‘broca do café’, praga que vinha causando enormes prejuízos à cafeicultura paulista. Em 1928, assumiu a direção do recém-fundado Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal do estado de São Paulo, onde criou a revista Arquivos do Instituto Biológico, para divulgação de trabalhos científicos. Em 1931, foi nomeado secretário do Interior do Estado de São Paulo, no contexto do movimento político-militar conhecido como Revolução de 1930, que depôs Washington Luís e colocou Getúlio Vargas à frente do governo. Grande defensor da popularização dos esportes, no curto período à frente da pasta inaugurou o Departamento de Educação Física, bem como o Serviço de Assistência aos Psicopatas. Permaneceu no cargo por apenas três meses, sendo nomeado interventor federal na Bahia, onde fundou o Instituto do Cacau da Bahia e adotou medidas sanitárias para profilaxia de inúmeras doenças, como a malária.  Após seis meses, foi substituído na interventoria por Juraci Magalhães. Em 1933, retomou suas atividades científicas e foi nomeado diretor-geral de pesquisas científicas do Ministério da Agricultura. Nesse ano foi diretor do jornal carioca A Nação, vinculado ao movimento tenentista, e elegeu-se deputado federal constituinte pelo seu estado (1933-1934), pelo Partido Social Democrático da Bahia, e reelegeu-se para a legislatura seguinte (1935-1937). Em 1937, com o Golpe do Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas, e a dissolução do Congresso Nacional, retomou suas atividades no Instituto Oswaldo Cruz. Um dos mais renomados sanitaristas e pesquisadores brasileiros, aproximou-se do movimento eugênico, defendendo teses amparadas no darwinismo social como solução para o atraso civilizacional do país, compartilhadas por nomes importantes da intelectualidade brasileira, como o médico Renato Kehl,  seu maior divulgador, Afrânio Peixoto, Belisário Pena, Franco da Rocha, Fernando de Azevedo, Juliano Moreira e Monteiro Lobato. Foi membro de inúmeras sociedades científicas nacionais e internacionais, como Academia Brasileira de Ciências, Academia Nacional de Medicina, Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo e Entomological Society de Washington. Escreveu inúmeros livros, ensaios e artigos científicos na área de entomologia, no Brasil e no exterior, além de ter atuado intensamente no periodismo médico e participado da fundação das revistas Ciência Médica e Boletim Biológico. Ainda estudante, colaborou para o jornal argentino El Tiempo, foi colunista do jornal O Estado de São Paulo, da Revista do Brasil, dirigida por Monteiro Lobato, e colaborou em inúmeros periódicos científicos. O prédio construído para as atividades de ensino do Instituto Oswaldo Cruz recebeu o nome de Pavilhão Artur Neiva, em sua homenagem. Morreu no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 1943.

Daniela Hoffbauer
Fev. 2023

 

Bibliografia

ARTUR Neiva. In: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Disponível em: https://bit.ly/3ZVhOzi. Acesso em: 15 mar. 2023.

BELISÁRIO PENA. In: DICIONÁRIO da Administração Pública Brasileira da Primeira República (1889-1930). Disponível em: https://bit.ly/3JP6v6s. Acesso em: 6 fev. 2023.

DANTES, Maria Amélia M. (org.) Espaços da ciência no Brasil: 1800-1930. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001,  p. 131-202.

LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado Brasil. Rio de Janeiro: Revan; Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 1998.

MUSEU NACIONAL. Os diretores do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 2007-2008. Disponível em: https://bit.ly/3KlWifO. Acesso em: 21 jun. 2022.

NEIVA, Artur. In: ABREU, Alzira Alves de. Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930). Disponível em: https://bit.ly/3HDWiYV. Acesso em: 27 jan. 2023.

OSWALDO Cruz. In: DICIONÁRIO da Administração Pública Brasileira da Primeira República (1889-1930). Disponível em: https://bit.ly/3Y3z1ow. Acesso em: 31 jan. 2023.

REZENDE, Joffre Marcondes. Arthur Neiva, inteligência e cultura a serviço da nação. In: REZENDE, Joffre Marcondes. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina. São Paulo: Editora Unifesp, 2009. p. 355-358. (História da Medicina, 2). Disponível em: https://bit.ly/3JGethS.

 

 

 

 

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