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Essa subordinação ao aspecto comercial pode ser vista tanto na determinação

dos produtos aqui cultivados (todos com grande demanda em mercados europeus)

quanto no tipo e nas dimensões das unidades produtoras, bem como nas relações de

produção e trabalho que nelas se estabelecem. Podemos compreender o latifúndio

,

a

escravidão e a monocultura, os três pilares básicos da agricultura colonial, como

resultantes da forma como Portugal estruturou seu projeto colonial e da maneira

como pretendia administrá-lo.

No que tange à relação entre atividade agrícola e administração portuguesa na

colônia, podemos entender que o desenvolvimento do processo colonizador faz surgir

uma interação dinâmica, determinada pelos interesses que se desenvolvem nos dois

lados do Atlântico. Tal dinâmica tem por base duas dimensões essenciais: uma

econômica e outra administrativa. Se, por um lado, a agricultura é segmento essencial

da economia colonial, por outro, e como tal, está sujeita ao controle administrativo da

metrópole. Se nas Índias o esforço do império português constituía-se basicamente em

negociar com os habitantes locais e garantir monopólio comercial das especiarias, no

Brasil, onde tais especiarias não existiam, foi feito todo um trabalho de organização

para produção de gêneros comercializáveis na Europa, além da proteção do território

em relação às ameaças estrangeiras. Há, portanto, um processo de colonização no qual

a agricultura ocupa papel central, pois está diretamente ligada não só às intenções

comerciais, mas também ao esforço de ocupação territorial. Esse esforço inicial

caracteriza um primeiro movimento na formação de uma ordem administrativa na

colônia, com o estabelecimento de capitanias, que, ao conceder terras a um donatário,

assegurava a administração civil e fomentava o povoamento, sendo bastante útil em

terras que não possuíam populações que pudessem ser organizadas em municípios

(Hespanha, 2007b, p. 2). Teremos oportunidade, no decorrer deste trabalho, de

analisar melhor essas estruturas iniciais e relacioná-las diretamente com a questão

agrícola.

Um segundo movimento surge a partir do primeiro, e está relacionado com a

administração das consequências do desenvolvimento colonial. O crescimento da