Previous Page  67 / 79 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 67 / 79 Next Page
Page Background

66

Tal iniciativa, na verdade, nos mostra que as principais iniciativas públicas se

deram no sentido de mitizar um dos principais males que assolaram a colônia: as

crises de abastecimento, fruto do descompasso entre a oferta de alimento e a crescente

demanda imposta pelo crescimento da população e da economia colonial, concentrada

essencialmente em gêneros de exportação. Como exemplo desse esforço, podemos

citar o alvará de 25 de fevereiro de 1688, que estabelecia que nas fazendas fossem

plantadas quinhentas covas de mandiocas para cada escravo que ali trabalhasse, e o

alvará de 27 de fevereiro de 1701, determinando que os donos de embarcações

ocupadas no tráfico de escravos africanos possuíssem roças próprias para plantar

mandioca suficiente para abastecer não só os escravos que transportavam, mas

também suas tripulações (Prado Júnior, 2000, p. 164).

Alguns autores apontam que essas medidas tomadas pela Coroa visavam

remediar um problema que, em parte, se originava no próprio modelo estrutural

adotado pela metrópole na sua política de colonização. Afinal, o modelo de colônia de

exploração, concentrado na produção de bens exportáveis, era regulado por um corpo

de normas legislativas imbuído de um viés mercantilista, que tabelava preços,

segregava mercados e estabelecia prioridades ao abastecimento de fortes e frotas

militares, jogando para segundo plano a questão do cultivo e distribuição de gêneros

alimentares (Linhares, Silva, 2000, p. 63).

Na verdade, ao que nos parece, a relação da Coroa com esse tipo de agricultura

era pontual. As iniciativas eram tomadas no sentido de resolver as questões conforme

elas influenciavam o funcionamento da “empresa colonial”. No entanto, e mais uma

vez, pode-se dizer que os esforços da Coroa no sentido de conter a escassez não

obtiveram sucesso e as crises se mantiveram durante todo o período colonial. O

inquérito de 1807, mandado proceder pelo governador da Bahia junto aos agricultores

e comerciantes locais no intuito de recolher impressões sobre a situação das lavouras

da capitania, demonstra o desinteresse deles em relação à plantação de gêneros de

subsistência em suas terras. O senhor de engenho Manuel Ferreira da Câmara afirmou

que “não planto um só pé de mandioca para não cair no absurdo de renunciar à