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Tal situação, no entanto, como afirma Caio Prado Júnior, não se torna
sustentável com o crescimento da população e com a integração cada vez maior da
economia exportadora colonial ao mercado internacional. Em cenário de alta de
preços dos produtos exportáveis, o espaço ocupado com o plantio de gêneros
alimentares nas grandes fazendas é logo usado para o aumento da produção dos
produtos típicos da grande lavoura. Se tal situação não gera grandes problemas para os
latifundiários, cujo aumento da renda daí advinda torna-os capazes de importar os
produtos de que necessitam, torna-se, todavia, um estorvo para o abastecimento das
outras regiões coloniais. É a partir das necessidades impostas por esse modelo que
surgem as primeiras lavouras especializadas em gêneros de subsistência, que, no
entanto, não se desvencilham da dependência em relação à lavoura de exportação,
constituindo “um setor subsidiário da economia colonial, (que) depende
exclusivamente do outro (o exportador) que lhe infunde vida e forças” (Prado Júnior,
2000, p. 159-60).
A agricultura de subsistência é responsável, então, por fazer conviverem, na
colônia, dois modelos de relação de trabalho e exploração da terra. Se os escravos das
grandes fazendas, que correspondiam a uma fração razoável da população colonial,
tinham a possibilidade de usar seu tempo livre para cultivar os gêneros necessários à
sua própria subsistência dentro dos próprios domínios da lavoura, pequenos
plantadores, os roceiros, buscavam abastecer o mercado local estabelecendo-se fora
dos domínios da grande lavoura, em terras arrendadas mediante pagamento de foro,
utilizando mão de obra escrava reduzida, ou até mesmo de brancos pobres, ou ambas,
formando assim uma “pequena produção escravista” de alimentos, que predominou na
Bahia, em Pernambuco e no Rio de Janeiro (Linhares, Silva, 2000, p. 55-6). Na
verdade, a questão das relações de trabalho que se formaram na agricultura de
subsistência é tema de extenso debate na historiografia nacional, principalmente
como contraponto à teoria de um “sentido” à colonização, exposta por Caio Prado