Previous Page  63 / 79 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 63 / 79 Next Page
Page Background

62

interior do país que tais animais ganham uma importância estratégica como meio de

transporte para homens e cargas.

Os cavalos eram criados em todas as capitanias, sobretudo no interior do

Maranhão e do Piauí. Os animais de raça eram valorizados pelos senhores de engenho

e, por serem indispensáveis às Forças Armadas, Portugal vinha buscá-los aqui durante

o século XVII e parte do XVIII. Várias cartas régias incentivavam esse comércio. A

carta régia de 14 de dezembro de 1666 anunciava a vitória do governo de Angola e

ordenava que se mandasse para lá o maior número possível de cavalos. Cartas régias e

provisões durante todo o século XVIII repetiram insistentemente a recomendação de

que não partisse embarcação alguma para Angola sem conduzir cavalos (Simonsen,

1978, p. 174). A criação de gado cavalar foi complementar à criação do gado vacum,

pois o cavalo era a montaria do vaqueiro, cuja função principal era percorrer os

campos para cuidar do gado. Já o gado muar, criado basicamente no sul do país,

passou a ser usado na exploração das minas para transportar o ouro, surgindo aí a

figura do tropeiro, que durante dois séculos exerceu função relevante nas ligações no

interior da colônia.

Em pouco tempo os animais provenientes da região sul suprimiram o

abastecimento que era feito a partir das barrancas do São Francisco (Del Priore,

Venâncio, 2006, p. 77). Assim, a mula começou a ter preferência sobre o cavalo no

transporte interno da colônia, o que fez disparar seu preço e prosperar ainda mais as

capitanias gaúchas em detrimento das do nordeste. Buscando remediar essa situação a

Coroa realizou esforços como a carta régia de 19 de junho de 1761, em que declarava

o rei os danos causados pelo crescimento do transporte e do comércio de mulas,

“deixando (-se) por isso de comprar os cavalos; de sorte que se vai extinguindo a

criação deles [...] em grave prejuízo de meu real serviço [...] e bem comum dos

lavradores dos sertões da Bahia, Pernambuco e Piauí”,

proibindo a partir de então o

despacho de entrada e saída de mulas em qualquer região do país. Tal medida, como

muitas outras, não foi cumprida e outras cartas régias foram expedidas, como a de