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os países que fazem fronteira ou estão na área de influência do comprador. Em grande parte das

vezes, a compra de armas reflete a busca por projeção intencional ou manutenção de prestígio

(DE MARTINI, 2014, p. 314-315). Assim, de acordo com esse raciocínio, se o Brasil quisesse

distinguir-se na comunidade internacional, deveria ter armas e uma Marinha que projetassem a

sua imagem. Tal raciocínio, conforme veremos adiante, permeou o discurso de todos os ministros

que estiveram à frente da pasta no período analisado.

A crescente modernização das forças navais trouxe à luz a questão orçamentária. De fato,

esse foi um aspecto importante no cenário mundial, seja para as grandes potências, como

também para os países que almejavam entrar nesse rol. Em relação a estes últimos, o fato era

ainda mais complexo: não produziam a tecnologia necessária para a modernização, sendo preciso

importá-la. Dentro desse contexto, o Brasil, assim como os seus vizinhos sul-americanos, não

possuía o desenvolvimento industrial requerido para a produção e manutenção desses navios

(MARTINS FILHO, 2010, p. 14). Na Primeira República, a dependência da indústria tornava-a refém

dos sucessos ou fracassos do café no mercado internacional. O lugar secundário que ocupava o

setor industrial não permitia que se produzissem em solo nacional os gêneros necessários à

modernização da Marinha. Tais produtos tinham que ser, em sua maioria, importados, o que

aprofundava o problema da dependência tecnológica.

Os primeiros anos republicanos conheceram uma forte crise econômica que afetou a

venda do café brasileiro aos Estados Unidos e à Europa, seus maiores compradores. Ao mesmo

tempo, pairava sobre o Brasil o espectro das incertezas políticas, ocasionadas por disputas entre

civis e militares para o comando do Poder Executivo, o temor de uma reação monarquista, as

revoltas regionais, como a Revolução Federalista no sul do país ou as revoltas da Marinha na

década de 1890. Tal crise, econômica e política, atingiu o Ministério de Marinha, o que foi

expresso nos relatórios ministeriais entre os anos de 1891 e 1902, que dissertam longamente

acerca dos muitos problemas existentes na Força Naval, assim como as possíveis maneiras de

saná-los.

Foi somente a partir da ascensão do almirante Júlio César de Noronha ao ministério,

durante o governo Rodrigues Alves

(1902-1906)

, que ações concretas e relevantes para a sua

modernização puderam ser visualizadas. A estabilização política e financeira implementada pelo

governo anterior, Campos Sales

1

(1898-1902), foi de grande importância para o planejamento e o

1. No plano econômico, Campos Sales levou adiante o

Funding Loam

negociado em 1897 com os credores

internacionais, ou seja, um empréstimo com o objetivo de pagar os juros e empréstimos anteriores. Conseguiu um