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A questão da limitação dos armamentos sul-americanos, iniciada nos trabalhos da
liga das nações e transferida para a Conferência Pan-Americana, agora reunida da
capital do Chile, interessa viva e apaixonadamente toda a marinha. Em ambas as
assembleias o Brasil teve de se pronunciar a respeito e debatidas e confrontadas
no tabuleiro franco da concórdia internacional, as forças disponíveis no momento
pelas do continente que possuem armamentos navais, verificou a nossa
diplomacia não ser possível aceitar o
status-quo
entre elas, por que deixaria a
nossa pátria em evidentes condições de inferioridade em relação às duas outras
repúblicas amigas, a Argentina e o Chile (BRASIL, 1923, p. 23).
Ainda nesse mesmo relatório, Alexandrino argumenta a favor do desenvolvimento de
novas armas, não somente pela sua utilidade bélica, mas também por sua importância para a
imagem nacional:
Desenvolver a aviação para ele (o Brasil), não será cuidar unicamente da defesa
nacional, nem precaver-se para o futuro, habilitando-se a retirar dos navios
aéreos todas as numerosas aplicações que lhe são reservadas, não será também
resolver o grande problema nos países de imenso território que é o das vias de
comunicações;
será conservar o renome adquirido, manter bem alto o prestígio
da pátria, demonstrando a capacidade de seu povo, não inferior aos
semelhantes estrangeiros
(BRASIL, 1923, p. 33, grifo nosso).
Nos meios civis, os debates acerca da modernização naval também podem ser encontrados
já na década de 1890. Em 1895, Rui Barbosa, exilado na Inglaterra, escrevia para o prestigiado
Jornal do Comércio
quatro artigos, nomeados de
“Lições do Extremo Oriente
”, bastante
influenciados pelo autor naval Alfred Mahan.
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De acordo com o autor, as nações sem inclinação
marítima, mas que ao mesmo tempo possuíam uma população pulverizada ao longo de um
grande litoral, necessitavam de uma poderosa esquadra. A existência de um forte Exército poderia
ser importante, mas este pouco poderia fazer se a Marinha fosse fraca e não garantisse a
independência nacional.
Se o Brasil sofresse derrotas no mar, o Exército fatalmente seria impotente para a luta.
Assim, havia a grande necessidade de reconstrução da Marinha brasileira, seja em seu aspecto
material, seja no que concerne aos seus quadros, considerada essa tarefa o grande problema
5. As ideias de Mahan podem ser elencadas nos seguintes pontos: 1. o poder marítimo das nações é um dos
principais responsáveis por seus destinos; 2. o controle dos oceanos seria ocasionado por grandes esquadras e pela
concentração de forças; 3. a posse de colônias seria mais eficiente do que o controle de grandes extensões territoriais
na metrópole; 4. as colônias e o comércio colonial seriam os propiciadores da riqueza de uma potência naval; 5. o
transporte por água seria mais barato do que o transporte terrestre; 6. uma ilha que fosse potência poderia ignorar
conflitos entre potências terrestres; 7. o poder naval como requisito necessário para se alcançar a condição de
potência militar. Tais ideias, hoje bastante questionáveis, tiveram grande responsabilidade para o surgimento e
recrudescimento da corrida naval no final do século XIX e início do XX (MARTINS FILHO, 2010, p. 20-21).