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com membros do governo e da administração naval brasileira antes que o primeiro programa

naval da República tivesse sido concebido (MARTINS FILHO, 2010).

Os primeiros frutos decorrentes da campanha em prol da modernização da Marinha

demoraram mais de uma década para começarem a ser colhidos. De fato, no ano de 1904, o

governo iniciou um programa de modernização naval, sendo Júlio César de Noronha o ministro da

pasta. Tal programa ficou conhecido pelos estudiosos do tema como 'Programa Naval de 1904'. A

influência do barão do Rio Branco, que ascendera ao Ministério das Relações Exteriores em 1902,

foi fundamental nesse processo. Rio Branco precisava de uma Marinha forte, pois via nesta um

instrumento para suas lutas diplomáticas, tendo apadrinhado o projeto desde a sua concepção

(BRASIL, 1932, p. 10). Assim, o Programa Naval de 1904 foi concebido com o objetivo de recuperar

a hegemonia brasileira perdida na América do Sul. Mas também tinha a preocupação de assegurar

a defesa nacional contra os seus vizinhos, assim como a pretensão de garantir uma proteção

continental, em conjunto com os mesmos vizinhos argentinos e chilenos, contra uma possível

agressão norte-americana ou europeia (NETO, 2014, p. 103).

O programa de 1904 navegava em águas serenas, e os alicerces para a reforma da Marinha

estavam lançados. O contrato com o estaleiro inglês Armstrong e Co. para a construção dos navios

couraçados, por exemplo, tinha sido firmado, assim como as medidas administrativas necessárias

para a adaptação da força ao projeto naval haviam sido encaminhadas e algumas implementadas.

Entretanto, alguns fatores alteraram a sua rota.

Em primeiro lugar, a posse do novo presidente eleito, Afonso Pena, ocasionou a ascensão

de um novo ministro, Alexandrino Faria de Alencar, no ano de 1906. Sugestão: Em segundo lugar,

nesse mesmo ano, fora lançado pela Inglaterra o navio encouraçado

HMS Dreadnought

, que

passaria a ser um dos maiores símbolos de poderio naval. Com de mais 18 mil toneladas, tinha

como principal diferença seus canhões de grosso calibre padronizados e os motores a vapor a

turbina.

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Sede a Conferência Pan-Americana, a ser realizada ainda em 1906, O Brasil teria no novo

encouraçado o ícone da imponência frente aos países que participariam do evento.

O Programa Naval de 1904, apesar de encaminhado, também sofria críticas por parte de

6. Os encouraçados anteriores ao

HMS Dreadnought

possuíam canhões de calibres diversificados em um mesmo

navio com o objetivo de atingir com as munições mais potentes as áreas mais resistentes dos demais navios, e com as

de menor calibre os pontos menos protegidos. De acordo com essa lógica, a blindagem dos navios também era

escalonada, de acordo com a importância da área que protegiam. A dificuldade de calibrar armas diferentes e a

necessidade de atingir alvos a uma distância cada vez maior fez surgir a ideia de construção de navios com alto e

padronizado calibre. No que concerne aos motores a turbina, estes possibilitavam uma grande velocidade, se

compararmos aos motores mais tradicionais, movidos a pistão (MARTINS FILHO, 2010, p. 15-16).