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Fábio Campos Barcelos e Louise Gabler

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esse modelo começou a ser implementado no Brasil nos anos 1930 e, décadas depois, foi

objeto de contestação durante as diversas tentativas de reforma administrativa realizadas no

país. Na verdade, a análise original do papel da burocracia definido por Weber esteve no

centro de uma série de debates ao longo do século XX, acompanhando as transformações

ocorridas no âmbito da administração pública em diversos países.

No entanto, outros aspectos devem ser realçados na análise weberiana. Ao enxergar a

administração como um mecanismo de dominação, Weber ressalta que, nos Estados

modernos, “a burocracia realmente governa, pois o poder não é exercido por discursos

parlamentares nem por proclamações monárquicas, mas através da rotina da administração”

(Weber, 1974, p. 22). De fato, não podemos entender essa afirmação de forma literal. A

capacidade de governar da burocracia advém, na verdade, de um ordenamento legal, das

“ordens instituídas”, que caracterizam o modelo de dominação racional. Ou seja, existe uma

dinâmica de interação entre administração pública e poder, onde ambas se influenciam

diretamente por meio de um aparato normativo, que delimita suas ações e seus campos de

atuação. Assim, o que tentaremos demonstrar é que esta dinâmica de dominação, vista

originalmente por Weber no nível da profissionalização do funcionário público e da

racionalização dos processos administrativos, pode também ser observada na estrutura da

administração pública como um todo, analisando seu desenvolvimento a partir das diferentes

conjunturas políticas do país.

Dessa forma, esperamos que as planilhas apresentadas no

Anexo

sirvam de fonte de

referência sobre os ministérios e órgãos da estrutura da Presidência da República no período

estudado e que nosso esforço seja um ponto de partida para futuros estudos capazes de unir

as informações aqui organizadas com outras análises. Afinal, acreditamos, por exemplo, que a

busca pela compreensão dos diferentes projetos de Estado apresentados pelos quatro

governos desde 1990 perpassa, necessariamente, a forma como eles organizaram e se

utilizaram do Poder Executivo. Podemos, desde já, citar como uma possibilidade de análise o

cruzamento das estruturas administrativas descritas aqui com os recursos orçamentários que

lhes foram destinados, o que nos permitiria avaliar quais foram as prioridades do Estado nas

últimas duas décadas e como se estruturaram as políticas públicas dos diferentes governos.

Essas são questões que não esperamos responder, mas apenas suscitar, contribuindo para uma

compreensão melhor de um período importante da recente trajetória do país sob governos

democráticos.

As intenções manifestas acima estão refletidas na estrutura deste trabalho. O

Capítulo 1

discute os intrumentos necessários para definir as diferenças entre Estado, governo e

administração e tenta definir o papel do Poder Executivo e as heranças institucionais e

conjunturais da administração pública brasileira no início dos anos 90. Com isso, delimitaremos

os elementos básicos para o

Capítulo 2

, onde serão expostas as circunstâncias que envolveram

as ações tomadas, no âmbito administrativo, de 1990 a 1994, durante os governos Collor e

Itamar. Por fim, no

Anexo

, apresentamos as planilhas elaboradas a partir da metodologia

utilizada

no programa de pesquisa Mapa, com informações sobre os diversos ministérios,

secretarias e demais órgãos que integraram o Poder Executivo no período.