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partir de agora tentaremos entender a dinâmica dos ministérios e órgãos que

compunham a estrutura da presidência da República durante os governos Collor e

Itamar, contextualizando-os na conjuntura política do país e nas transformações

ocorridas na administração pública de modo geral e no próprio Estado brasileiro.

Como vimos, desde a década de 1980 o modelo de desenvolvimento econômico por

substituição de importações, adotado a partir do governo Vargas e aprofundado durante o

regime militar, apresentava sinais de esgotamento. Essa situação se refletia em taxas de

crescimento do PIB menores que nas décadas anteriores e numa inflação cada vez maior. O alto

grau de intervenção estatal na atividade econômica, característico do modelo de Estado que

vigorara até então, passou a ser visto com desconfiança, e a solução propugnada para resolver os

desequilíbrios econômicos nacionais passou a incluir o afastamento do Estado dessas atividades

e um retorno às suas funções sociais básicas, como a garantia de direitos ligados à educação e à

saúde. Assim, durante a campanha presidencial de 1989, a ideia de que o Estado era a causa do

atraso nacional e a máxima “menos governo, menos miséria” estiveram presentes nas propostas

de candidatos como Paulo Maluf, Afif Domingos e do vencedor, Fernando Collor de Mello, cujas

promessas englobavam toda uma redefinição do papel do Estado na sociedade, incluindo o

combate à corrupção, a caça aos marajás, o saneamento das finanças públicas, o enxugamento

da máquina administrativa (Nogueira, 1990, p. 2).

No entanto, é preciso lembrar que, ao assumir a presidência, o grande inimigo de

Collor era a inflação, e boa parte da sua estratégia de reforma do Estado tinha como foco

tentar conter o aumento do índice de preços, que havia chegado a 1.782% ao ano, em 1989.

1

O

discurso de posse, feito em 15 de março de 1990, no Congresso Nacional, sintetiza bem as

diretrizes que orientariam os planos do presidente:

Conhecem Vossas Excelências a agenda de medidas básicas com que

encetarei nossa estratégia de extermínio da praga inflacionária. Não

poderemos edificar a estabilização financeira sem sanear, antes de tudo, as

finanças do Estado. É imperativo equilibrar o orçamento federal, o que

supõe reduzir drasticamente os gastos públicos. Para atingir o equilíbrio

orçamentário, é preciso adequar o tamanho da máquina estatal à verdade

da receita. Mas isso não basta. É preciso, sobretudo, acabar com a concessão

de benefícios, com a definição de privilégios que, independentemente de

seu mérito, são incompatíveis com a receita do Estado. No momento em que

lograrmos esse equilíbrio – o que ocorrerá com certeza – teremos dado um

1 Valor referente ao índice geral de preços (IGP) no período de dezembro de 1988 a dezembro de 1989,

de acordo com Giambiagi

et al

. (2005, p. 403).

A