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Cadernos Mapa n. 3 ▪ Entre caminhos e descaminhos

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um modelo que pode ser definido como “administração para o desenvolvimento”, ou seja,

um modelo voltado

para a expansão da intervenção do Estado na vida econômica e social e para

a substituição das atividades de funcionários estatutários por celetistas e a

criação de entidades da administração descentralizada para realização da

intervenção econômica do Estado. (Marcelino, 2003, p. 643-644)

No entanto, já vimos que nos anos 80 essa estratégia começou a ser questionada

diante de sucessivas crises econômicas internacionais. No Brasil, o esgotamento desse modelo

de Estado foi acompanhado por um processo de agitação política que convergiu para o retorno

a um governo civil em 1985. A administração pública não passou incólume por tão conturbado

cenário, e aquele período acabou sendo marcado por uma série de tentativas frustradas de

reformas administrativas.

Os vinte anos de governo militar fizeram com que, em meados da década de 1980, a

administração pública possuísse características que eram consequência direta do modelo

desenvolvimentista e que passaram a ser combatidas quando da queda do regime. A primeira

delas consistia na grande disparidade entre os órgãos da administração indireta e da

administração direta. A política de fortalecimento da administração indireta fez com que essas

entidades possuíssem uma dinâmica própria, o que incluía desde salários superiores até

aspectos como melhor capacitação de recursos humanos e maior capacidade de tomar

decisões e implementar políticas (Martins, 1997, p. 25). Assim, passaram a coexistir, no mesmo

cenário, o Estado tecnocrático e moderno, representado pelos órgãos da administração

indireta, e o Estado tradicional e antiquado, com seus vícios de morosidade e atraso

(Marcelino, 2003, p. 644). Na prática, perante a sociedade, essa dicotomia revelou-se

sintomática do Estado desenvolvimentista, pois, como bem definiu Luciano Martins,

enquanto o setor paraestatal floresceu, a prestação dos serviços públicos

básicos à população (tais como saúde, educação, assistência social e

segurança pública), que estavam a cargo da administração direta,

continuaram a deteriorar. (1997, p. 25)

A incapacidade da administração pública em prestar serviços aos cidadãos era

manifesta, simbolicamente, na sua excessiva burocratização. Essa situação

foi percebida pelos

militares e, em 1979, ainda no governo do general Figueiredo, foi criado o Programa Nacional

de Desburocratização, cujo principal objetivo era racionalizar e simplificar os mecanismos de

administração, tendo sempre como meta o bom atendimento ao cidadão (Couto, 1993, p. 122;

Lima Júnior, 1998, p. 14).

É fácil identificar, já nessa medida tardia do governo militar, um sinal de que os tempos

estavam mudando. As deficiências da administração direta na prestação de serviços eram

apenas o reflexo administrativo do já mencionado déficit social resultante do modelo de

desenvolvimento adotado nas décadas anteriores. As crises do modelo de substituição de