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membros da Igreja, sempre que havia ameaça de guerra, agitação civil ou perda de
rendimentos para o Erário Régio” (Russel-Wood, 1999, p. 171). De fato, Russel-Wood
se une a Hespanha na defesa de uma revisão na ideia de um governo metropolitano
centralizado, contestando principalmente a crença de que as ordens da Coroa fossem
aplicadas fielmente por seus representantes na colônia. Para ele,
se por um lado a estrutura de governo era altamente centralizada na
metrópole – com efeito, esta foi a lógica da criação do Conselho
Ultramarino –, de outro, equiparava-se a um contexto descentralizado:
convergência de jurisdições e de autoridades acerca das múltiplas
funções de governo em um único indivíduo ou em apenas uma
agência do governo, ao mesmo tempo que múltiplas agências de
governo e vários indivíduos exerciam jurisdição e autoridade sobre
uma única função de governo (Russel-Wood, 1998).
Tal descentralização do poder e as autonomias locais acarretavam muitas vezes
conflitos e tensões devido às más definições das atribuições de cargos e superposições
de funções, em que mais de um indivíduo podia ter responsabilidades sobre uma
mesma área.
Ser experimentado nos diversos cenários que compunham o império era uma
característica imprescindível para quem almejasse representar a Coroa no governo das
colônias. Os altos estratos da administração imperial deveriam ser compostos por
homens que mostraram o seu valor em diferentes ambientações, seja militarmente,
seja administrativamente (Russel-Wood, 1999, p. 177; Souza, 2006, p. 40). O sangue
também era fator de grande peso na escolha desses representantes. O pertencimento a
uma nobre família fazia toda a diferença para a nomeação em altos postos da
administração portuguesa. Um vice-rei, capitão-geral ou governador-geral deveria ter
capacidade diplomática para negociar com diferentes grupos locais, uma flexibilidade
que lhe permitisse a adaptação às circunstâncias e a possibilidade de muitas vezes
interpretar as ordens e decretos provenientes da metrópole, de acordo com as
conjunturas e peculiaridades regionais, mas sem deixar de lado a lealdade à Coroa
(Souza, 2006, p. 46). Tal atributo, obviamente, é muito mais uma característica pessoal