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Cadernos Mapa n. 3 ▪ Entre caminhos e descaminhos

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O Consenso de Washington foi visto como síntese do modelo neoliberal que pregava a

adoção do Estado mínimo, cujo papel seria, essencialmente, trabalhar para que as leis de

mercado pudessem funcionar da forma correta. Assim, caiu em descrédito a noção do Estado

produtor, passando a vigorar a crença de que o caminho para o bem-estar social não passava

mais pela necessidade de intervenções estatais na economia. Nessa nova configuração, o

sistema de economia de mercado seria dotado dos mecanismos necessários para seu próprio

desenvolvimento e o Estado deveria centrar seus esforços e recursos na busca por garantir que

as regras de mercado fossem cumpridas da melhor maneira possível e na garantia dos direitos

sociais.

Além de mudanças econômicas, a década de 1980 foi marcada também por

acontecimentos políticos significativos. Os últimos anos da ditadura militar, sob o governo do

general Figueiredo, caracterizaram-se por “dois traços que muita gente considerava de

convivência impossível: a ampliação da abertura (política) e o aprofundamento da crise

econômica”, como define Boris Fausto (2009, p. 501). De fato, o segundo choque do petróleo

em 1979 ampliou as dificuldades financeiras do país e gerou um quadro de recessão

econômica entre 1981 e 1983, causando os primeiros índices negativos de crescimento do PIB

desde 1947. Esse cenário foi fruto principalmente das políticas recessivas aplicadas pelo

governo no período, dada a necessidade de “pisar no freio” da economia nacional para conter

a inflação, que já ultrapassava os cem por cento ao ano. No entanto, o cenário de crise

econômica da primeira metade da década de 1980 não aumentou a intensidade da repressão

do regime militar, como era esperado (Fausto, 2009, p. 500-504).

A lei da anistia aprovada em 1979 havia sido um passo importante rumo à abertura

política, iniciando um movimento que culminou com a campanha das Diretas Já, em 1983, a

qual, apesar de constituir-se como uma demonstração espantosa de mobilização social em prol

das eleições diretas para presidente, não logrou alcançar seu objetivo imediato. A pressão

social pode não ter sido bem-sucedida em restabelecer a democracia no país, mas foi forte o

suficiente para que, em 1984, o candidato civil do partido de oposição aos militares, Tancredo

Neves, fosse eleito para a Presidência da República, mesmo que de maneira indireta. Tancredo

morreu antes de sua posse, o que não impediu que seu vice-presidente, José Sarney, assumisse

o cargo e conduzisse o processo de redemocratização, que culminou com as eleições de 1989,

quando os brasileiros puderam novamente exercer seu direito de escolher o presidente da

República (Fausto, 2009, p. 500-512).

No plano internacional, o período foi inicialmente marcado pelas influências das

políticas do presidente Reagan, nos Estados Unidos, e da primeira-ministra Elizabeth Thatcher,

na Grã-Bretanha, ambos responsáveis por implementar, em seus respectivos países, históricas

reformas no aparelho de Estado, visando redimensioná-lo à luz de conceitos liberais que

incentivavam a atuação das forças de mercado sobre a economia e a diminuição da

participação estatal na sociedade. Também nos anos 80 observou-se a decadência contínua do

regime comunista da União Soviética, a despeito das tentativas de reestruturação no governo

de Mikhail Gorbachev. Após décadas de disputa com os Estados Unidos na busca pela

hegemonia mundial, crises econômicas e políticas levaram ao desmantelamento do regime

soviético, em um processo que teve como ápice a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a total

desintegração da URSS dois anos depois.