

Caderno Mapa n.8- A Secretaria de Estado do Negócios da Marinha
do país sabiam disso. Era preciso um governo que acabasse com o clima de insurreição instaurado
durante o período regencial, com conflitos que acabavam por nos assemelhar à “barbárie” de nossos
vizinhos caudilhescos republicanos, como diziam alguns de nossos políticos na bancada da Assembleia
Geral, temerosos desta “terrível anarquia” que viviam as repúblicas sul-americanas. Neste momento
nasce no país o primeiro partido político organizado, o Partido da Orde
m 5, que após o ingresso de
outras facções políticas passaria a chamar-se Partido Conservador, e que terá grande relevância em
nossa análise daqui em diante.
Diversos autores como José Murilo de Carvalho e Ilmar Mattos já apontaram em seus estudos a
importância deste grupo político para a construção do Estado nacional e na consolidação da Monarquia
no Brasil
...
.(CARVALHO, 2010; MATTOS, 1986) O que nos importa para o presente trabalho é a forma
como este grupo, organizado em torno do projeto monárquico, tornou-se hegemônico; como exerceu
o poder, e quais foram as práticas adotadas por eles na administração do Estado brasileiro. Neste
aspecto nos são de grande valia as indicações presentes no trabalho da historiadora Adriana Souza, “O
Exército na consolidação do Império: um estudo histórico sobre a política militar conservadora”. Neste
livro, ao analisar a formação do exército brasileiro no período imperial, a autora ressalta a importância
que este grupo deu, ao assumir o poder em 1837, à “forma de governar”. Seu primeiro Gabinete, não
por acaso, ficou conhecido como o 'Ministério das Capacidades', porque seus membros, de acordo com
eles próprios, não eram apenas melhores politicamente que seus antecessores, mas eram mais capazes e
preparados para administrar a nação. Souza desenvolve como, através das práticas administrativas, o
Partido Conservador buscou imprimir uma nova dinâmica à burocracia estatal e como, a partir do
discurso da eficiência administrativa (aliado logicamente ao trunfo político de ter comandado a
pacificação das rebeliões no interior do país), este grupo deu a sua forma à administração pública e
contribuiu para um longo período de hegemonia conservadora, que prolongou-se até o fim do período
conhecido como “Conciliação” em 1857
. 6Em 1836 os conservadores encontravam-se na oposição, e uma das principais figuras organizadoras
do partido, o deputado Bernardo Pereira de Vasconcelos, questionara o então ministro da Guerra,
Saturnino Pereira, por seu lacônico relatório anual e afirmava que, de sua parte, não poderia “
votar
quantia alguma para o material do Exército sem que saiba o que existe, o que possui”
(SOUZA, 1999, p. 87). Se a
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Durante o primeiro reinado e nos primeiros anos da Regência houve alguns agrupamentos que se distinguiam momentaneamente na
defesa de algumas ideias, como os caramurus, os liberais exaltados e moderados, mas estes não se conformaram enquanto um partido
político propriamente dito. Tal organização só ocorreria em 1837, articulada por Bernardo Pereira de Vasconcelos, que, em sua ferrenha
oposição ao Regente Diogo Feijó, arregimentou a sua volta um grupo que definia sua atuação como regressista, em oposição ao que
consideravam o excesso de liberalismo do governo Feijó. A agremiação adotou como nome Partido da Ordem, mais tarde Partido
Conservador. Ascendendo este Partido ao poder em 37, a antiga situação, agora oposição, adotaria o nome de Partido Liberal.
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ara uma análise mais aprofundada acerca do Partido Conservador e as reformas do regresso ver Almeida, 2013.. Sobre o
Partido Conservador e o discurso da eficiência administrativa ver SOUZA,1999, eMATTOS, 1986 p. 129.
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