

Caderno Mapa n.8- A Secretaria de Estado do Negócios da Marinha
administração liberal era acusada pelos conservadores de ser desorganizada e anárquica, ao assumir o
governo os conservadores buscaram a sua legitimação política como sendo aqueles que poderiam dar
uma estruturação racional, transparente e organizada à administração pública. Dessa forma, o nome
escolhido pelos conservadores para estar à frente da Secretaria de Estado da Marinha em 1837 foi o de
Joaquim José Rodrigues Torres, o futuro visconde de Itaboraí, que, inclusive, já havia sido titular da
pasta por duas vezes entre os anos de 1831 e 1834 e era um dos nomes fortes do Partido Conservador,
sendo um dos componentes daquela que ficaria conhecida como “a trindade saquarema
” 7 .E partiu dele
o primeiro impulso reformador na Secretaria de Estado da Marinha.
Rodrigues Torres demonstrou que as críticas dos conservadores em 1836 não eram meramente
retóricas e, seguindo o pedido feito por Vasconcelos ao gabinete anterior, edita em maio de 1838 um
relatório que se diferenciou dos relatórios ministeriais dos anos anteriores por sua minuciosidade.
Contando com mais de 40 páginas, o ministro descreve com pormenores em seu relatório a situação de
cada uma das repartições da Marinha, de seus oficiais e o andamento da instrução militar na Academia
dos Guardas-Marinhas, dando grande importância à questão da organização e da disciplina, que, para
ele, eram “frouxas” nos corpos da Armada. Seu detalhismo foi tal que apresentou a lista nominal de
todos os funcionários lotados na repartição, partindo dele próprio até os ajudantes do porteiro, algo
que se tornaria comum nos relatórios de alguns de seus sucessores, mas que não ocorria até então.
Entrega ainda junto ao seu relatório algumas propostas de reforma administrativa da Marinha. A
primeira dizia respeito a algumas medidas a serem tomadas na promoção no corpo de oficiais, que, de
acordo com Rodrigues Torres, encontrava-se “inchado” nos altos escalões, o que culminava na situação
de não haver navios suficientes para tantos comandantes, funcionando entre eles um esquema de
rodízio, onde os oficiais permaneciam 12 meses embarcados a cada 3 anos. Na opinião do ministro, este
fato era extremamente prejudicial para a formação militar, que exigiria uma prática continua, com um
maior tempo no mar.
No aspecto burocrático administrativo, Rodrigues Torres é enfático ao apresentar os graves
problemas causados pela descentralização fiscal da Marinha. As repartições que se encontravam em
outras províncias, embora recebessem seu orçamento através da Secretaria de Estado da Marinha -
localizada na Corte e parte integrante do poder central - prestavam contas diretamente às tesourarias
provinciais de onde estavam situadas. O problema da fiscalização por parte destas repartições, de
acordo com o ministro, era que,
“sobrecarregadas de outras incumbências, e contando com empregados, que não
dependem imediatamente do Ministro da Marinha, pouco próprias são para fiscalizar os dinheiros públicos, despendidos
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“Saquaremas” foi a forma como ficaram conhecidos os políticos do Partido Conservador devido ao fato de seus principais quadros
serem grandes proprietários de terra neste município fluminense. Por possuírem papel de destaque e liderança neste grupo, Joaquim José
Rodrigues Torres, Eusébio de Queirós e Paulino José Soares de Souza, ficaram conhecidos como a trindade saquarema
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