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Inglaterra a procurar uma nova fonte para suas importações de algodão, e a ascensão
de Napoleão, que trouxe a revolução à Martinica, uma das principais concorrentes da
metrópole no mercado exportador de açúcar. Além disso, os esforços para
diversificação das culturas agrícolas em território brasileiro começaram a surtir efeito.
Ao perpassar o cenário das capitanias brasileiras na entrada do século XIX, Lemos
Brito nos demonstra como, por exemplo, o cultivo do algodão no Maranhão,
incessantemente incentivado pela Coroa, tornou aquela capitania próspera, assim
como os esforços do marquês do Lavradio, fervoroso defensor das iniciativas estatais
como forma de fomento à agricultura, fizeram florescer uma lucrativa cultura do anil
e do café no Rio de Janeiro. A já mencionada isenção de impostos a matérias-primas
também estimulou novos produtos como o cacau, tanto no Rio Negro quanto no Pará,
sendo que esta última capitania já contava com um Jardim Botânico possuidor de
2.362 espécies de plantas na virada do século. Outro exemplo a ser citado seria o
Ceará, que, mesmo com um sério problema de secas sazonais, viu sua economia se
dilatar a partir do alvará de 27 de abril de 1803, que isentava seus produtos de direitos
por seis anos, autorizando o comércio direto com a metrópole (Brito, 1980, p. 277-92).
Assim, diante dessa conjuntura favorável, Portugal viu suas exportações para a
Inglaterra aumentarem 90% entre 1776 e 1795, tendo, pela primeira vez, um saldo
positivo na balança comercial com aquele país. Com exceção de 1797 e 1799, todo o
período entre 1796 e 1807 apresentou um superávit na balança comercial com países
estrangeiros, excetuando-se as colônias. Na verdade, as importações portuguesas de
suas colônias aumentaram a uma taxa de quase 10% ao ano. Nesse cenário de
dependência que a Coroa enfrentava em relação às suas colônias na virada do século,
o Brasil ocupava lugar central, tanto na oferta quanto na demanda, exportando mais
de 80% e importando quase a mesma coisa do total que era movimentado no mercado
entre o reino e suas colônias. Ao mesmo tempo, seus produtos respondiam por mais
de 60% do que era exportado pelo império para países estrangeiros (Silva, 1998, p.
512-516).