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papel importante em diversos aspectos do cenário econômico colonial, atuando tanto
no funcionamento dos engenhos, quanto no desenvolvimento da economia
mineradora, no transporte e no abastecimento interno da colônia, além da ocupação
de novos territórios, com a expansão das fronteiras para o interior (Del Priore,
Venâncio, 2006, p. 81).
Podemos destacar dois principais centros de criação pecuária no Brasil: em
primeiro lugar o Nordeste, onde a atividade surgiu logo no início do processo de
colonização, com o gado sendo introduzido na capitania de Martin Afonso em 1534,
por sua esposa e procuradora d. Ana Pimentel (Simonsen, 1978, p. 151). Dali a criação
foi adentrando o interior à procura de espaço, estabelecendo-se no sertão nordestino e
formando um grande polo criador que só foi superado pela ascensão de um novo polo
na região centro-sul do país, onde o gado foi introduzido pelos jesuítas ainda no início
do século XVII, ganhando força com a expansão da economia mineradora. Vale notar,
como afirma Celso Furtado, que, em ambas as regiões, a criação de gado consistia em
uma atividade caracterizada por elementos muito distintos dos da economia
açucareira: a ocupação de terras era basicamente extensiva e itinerante, com poucas
ocupadas de forma permanente, em um processo de expansão constante. Além disso, a
densidade econômica da atividade era extremamente baixa, e suas inversões
necessárias eram mínimas quando comparadas às de um engenho (Furtado, 1995, p.
57) .
No entanto, inicialmente, e durante muito tempo, a pecuária se desenvolveu
paralelamente à indústria de cana, pois a carne servia de alimento e o gado era
utilizado também como força motora para trabalhar nas moendas, puxar carroça e
transportar produtos, sendo os bois, nas palavras de Luís Amaral, “indispensáveis nos
engenhos” (Amaral, 1958, p. 84). Com o crescimento exponencial da indústria
açucareira começam a surgir conflitos entre lavradores e criadores de gado pelo uso
da terra, sendo estes impelidos a se retirarem para o sertão, afastando-se das áreas
litorâneas, mais apropriadas para os canaviais e mandiocais. Com o passar do tempo, o
que talvez tenha se iniciado no fim do século XVII como um movimento natural para