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Caderno Mapa n.7 - A Secretaria de Estado do Negócios Estrangeiros e a consolidação das relações exteriores no Brasil

Nessa conjuntura, Portugal procurou manter uma postura de neutralidade, temendo que as ideias

francesas pudessem desestabilizar seu governo e sua sociedade. Por outro lado, também não queria

abalar a tradicional política de aliança com a Inglaterra, principal inimiga de Napoleão. Em 1806 porém,

sentindo-se ameaçado com a aliança entre espanhóis e franceses, aderiu ao Bloqueio Continental num

primeiro momento, mas, no ano seguinte, com o Tratado de Fontainebleau, que determinava a divisão

do território luso entre França e Espanha, optou por transferir a corte para o Brasil, sob proteção

britânica.

A primeira medida do príncipe regente d. João em território brasileiro foi a abertura dos portos às

nações amigas, em 28 de janeiro de 1808, acabando com o exclusivismo comercial entre a Colônia e a

Metrópole, permitindo a exportação de produtos brasileiros às demais nações estrangeiras. De acordo

com a carta régia, ficou estabelecida uma tarifa de 24% sobre os produtos importados, com exceção

dos vinhos, aguardentes e azeite, que pagariam o dobro de imposto.

Outras medidas também foram tomadas para adaptar a administração portuguesa à nova realidade,

como por exemplo, a criação de diversos órgãos e a reforma do aparato administrativo e judiciário. No

caso das secretarias de Estado, o decreto de 11 de março nomeou seus ministros, mas não houve

nenhum regulamento para o seu funcionamento e estrutura no Brasil. Com exceção da Secretaria de

Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, que teve parte de suas competências

alteradas, as demais secretarias mantiveram as disposições do alvará de 1788 (CABRAL; CAMARGO,

2010, p. 54). No caso específico da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, sua

atuação consistiu em “

centralizar a operacionalização das relações externas da Corte portuguesa, a partir da sede

brasileira

(MARTINS, 2006, p. 130)

.

Em 1815, com a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte, as nações europeias reuniram-se no

Congresso de Viena e buscaram restaurar as monarquias absolutistas abaladas pelas guerras, tendo

como princípio a legitimidade dinástica anterior à Revolução Francesa e a preservação das estruturas do

Antigo Regime. Também nesse contexto foi formada a Santa Aliança entre Áustria, Prússia e Rússia

que visava intervir em qualquer assunto que ameaçasse os princípios estabelecidos no congresso. O

restabelecimento da paz e da antiga ordem europeia abriu caminho para o retorno de d. João a

Portugal, mas isso não ocorreu e o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido à Portugal e Algarves.

A permanência da corte no Brasil gerou grande insatisfação em Portugal, que já sofria perdas

econômicas desde a abertura dos portos, quando deixou de ser o único entreposto comercial oficial dos

produtos brasileiros. Em 1810 os tratados com a Inglaterra prejudicaram ainda mais a burguesia

mercantil portuguesa já que os produtos ingleses passaram a pagar tarifa alfandegária de 15%, taxa

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