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Caderno Mapa n.9- A Secretaria de Estado do Negócios da Fazenda e o Tesouro Nacional

questões fazendárias na condução da política portuguesa e constatasse como

“indispensável e necessária

para a sólida conservação de um tão grande estabelecimento”

que o presidente e inspetor-geral do Erário

possuísse também o título de ministro de Estado, sendo considerado

“não só como Magistrado supremo da

Fazenda, mas como Ministro dela como intendência separada...como está concedida em cada um dos outros ministros

secretários de Estado nas suas repartições.”

As competências ligadas a economia passavam então a não mais

pertencer à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, sendo criado oficialmente o cargo de

secretário de Estado da Fazenda, assumido pelo visconde de Vila Nova da Cerveira, que ocupava a

presidência do Erário na ocasião.

Apesar desse alvará de 1788 ser considerado o ato criador da Secretaria de Estado dos Negócios da

Fazenda em Portugal, sua instituição se deu de fato apenas em 1801 - quando d. Rodrigo de Sousa

Coutinho assumiu o cargo - e suas competências foram apenas formalmente definidas em 1812 (Subtil,

1996, p. 23). Como veremos mais adiante nesse trabalho, tal situação é similar à que aconteceu no Brasil

quando, em 1822, foi criado o cargo de secretário de Estado dos Negócios da Fazenda.

A chave para tentarmos entender essa aparente confusão passa necessariamente pela compreensão

do papel que os secretários de Estado exerciam na estrutura administrativa portuguesa do Antigo

Regime. Em 1602 existiam os chamados secretários do despacho, que auxiliavam no despacho de

diferentes áreas de governo. Ao longo dos anos seguintes esse número foi alterado, até que na década

de 1640 aparece o cargo de secretário de Estado, com o objetivo de auxiliar nas reuniões do Conselho

de Estado. Em 1643, através do alvará de 29 de novembro, foi criado o cargo de secretário das Mercês

e Expediente, e posteriormente, já no fim do século, o de secretário de Assinatura (Subtil, 1993, p. 177;

Almeida, 2008, p. 33-34).

Segundo Joana Almeida, só pelo alvará de 29 de novembro de 1643 é que é possível perceber um

esforço em avançar da criação do cargo de secretário em direção ao estabelecimento de secretarias,

sendo estas, na verdade, lugares de despacho do secretário junto ao rei, localizado necessariamente no

Paço, sede do governo (2008, p. 34). Esse esclarecimento é muito importante para que não sejamos

induzidos a entender as secretarias de Estado do Antigo Regime como equivalentes à noção

administrativa que temos hoje dos ministérios, que só se desenvolvem, de fato, ao longo do século XIX.

A mesma autora esclarece ainda que um ponto importante e que também contribui para esse tipo

de mal entendido é o uso constante do termo 'ministro' na documentação do período para designar os

cargos de secretário de Estado. Tal termo aparece usado como sinônimo de secretário de Estado no já

citado alvará de 1643, mas a autora adverte que, originalmente, seguindo a influência francesa, o termo

ministro refere-se a todos os oficiais régios letrados, enquanto ser qualificado como secretário

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