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Caderno Mapa n.9- A Secretaria de Estado do Negócios da Fazenda e o Tesouro Nacional

Este ato é simbólico, pois, ao transplantar para a nova sede da corte no Rio de Janeiro os principais

cargos de deliberação da estrutura administrativa do Império português, estabelece na colônia um novo

centro de condução política. De fato, os primeiros anos do século XIX são marcados pela existência de

dois governos no reino lusitano, um estabelecido no Rio de Janeiro, e um em Portugal, composto pelo

Conselho de Regência, estabelecido por d. João, e posteriormente substituído pelo Conselho de

Governo, criado pelos franceses após chegarem a Lisboa (Subtil, 2006, p. 21; Martins, 2007, p. 27-36).

É interessante notar, ainda, que a nomeação desses secretários de Estado no Brasil não significou o

fim das secretarias já estabelecidas em Portugal, muito menos do Erário Régio, que continuou existindo

na Europa até a década de 1830. Nota-se, ainda, como apontado por Joana Almeida, que a Secretaria de

Fazenda foi a única não transplantada para o Brasil de forma direta (2008, p. 79; Martins, 2007, p. 120).

Ao estudar a documentação envolvida no transporte da família real para o Brasil, Ana Canas

Martins, confirma esse fato, afirmando existir uma situação ambígua envolvendo a Secretaria de

Fazenda no Brasil, demonstrando que a designação de ministro e secretário da Fazenda constantemente

se confunde com a de ministro e secretário de Estado dos Negócios do Brasil, aparecendo apenas “

aqui

e acolá

” nos documentos oficiais, sendo mais frequente a opção pelo título de presidente do Erário,

acompanhando o cargo de secretário dos Negócios do Brasil. Conclui, portanto, que: “

Na prática, a

gestão das matérias financeiras parece ter sido exercida ao nível de um secretário de Estado mas através do Real Erário e

do Conselho de Fazenda”

(Martins, 2007, p. 120).

Assim, o que vemos é um cenário onde o braço executivo das finanças da Coroa foi

institucionalizado logo após a chegada da Corte à colônia, mas a função de secretário da Fazenda era

exercida pelo secretário de Estado dos Negócios do Brasil, que também era o presidente do Erário. Ou

seja, a condução das finanças e da economia como decisões políticas de Estado eram feitas no âmbito

da Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil, sendo operacionalizada pelo Erário.

A implantação do Erário no Brasil foi, sem dúvida, um marco na estrutura financeira da colônia.

Durante todo o período colonial, a trajetória dos órgãos de arrecadação e administração das rendas

reais refletiu tanto a dinâmica da própria economia como também as mudanças administrativas

ocorridas na metrópole. O modelo de administração buscou seguir a lógica mercantilista que estava na

base da política econômica portuguesa e que incluía não só a extração das receitas oriundas do

comércio e da produção, mas também as garantias dos monopólios régios e outros contratos que eram

essenciais para a garantia do exclusivismo metropolitano sobre a colônia. (Salgado, 1985, p. 83-84). Da

mesma forma, as reformas empreendidas na administração portuguesa no século XVIII chegaram até a

colônia, gerando uma série de órgãos de fazenda mais especializados.

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