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que estava por trás da organização agrícola brasileira, que, invariavelmente,
perpassava pelo seu modelo de administração colonial.
Assim, junto aos regimentos, temos uma avalanche de outros documentos que
são pródigos em instruções da metrópole quanto à forma como os governadores
deveriam se ocupar em relação a orientar a exploração agrícola. Como bem definiu
Rodolfo Garcia: “Por uma simples ordem proibia-se a criação e o comércio destas ou
daquelas raças de animais, a cultura de tais ou quais plantas ou especiarias” (Garcia,
1956, p. 200) Muitas dessas ordens referiam-se àquela que, durante muito tempo, foi a
verdadeira mina de ouro da colônia: o açúcar. Luís Amaral, em sua
História geral da
agricultura brasileira
, estima que, entre 1500 e 1822, o açúcar respondeu, sozinho, a
quase 56% do valor de mercadorias exportadas pelo Brasil (Amaral, 1958, p. 325).
A cana foi introduzida no Brasil pelos próprios portugueses, provavelmente
antes mesmo da expedição de Martin Afonso. Já em 1516, a Casa da Índia,
subordinada ao Conselho de Fazenda de Portugal, procurava mestres de açúcar para
trabalhar em terras brasileiras. Nesse mesmo ano, é expedido um alvará mandando
instrumentos e ferramentas àqueles que fossem capazes de vir ao Brasil iniciar a
construção de um engenho. Consta também, já na década de 1520, as primeiras
cobranças de direitos registradas na Alfândega de Lisboa sobre açúcar vindo do Brasil
(Amaral, 1958, p. 328; Del Priore, Venâncio, 2006, p. 33).
Segundo Cannabrava, a cana não foi trazida ao Brasil por acaso. Em alta no
mercado europeu, a manufatura do açúcar já havia sido experimentada pelos
portugueses em outras terras do seu império ultramarino, tais como na Ilha da
Madeira, nos arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde, e na Ilha de São Tomé. A
experiência acumulada nessas outras colônias fez surgir em Portugal uma pequena
indústria de equipamentos para engenhos e ajudou a inserir o açúcar nas rotas de
comércio internacional (Cannabrava, 1982, p. 204). Ao mesmo tempo, o Brasil
enfrentou a proibição do cultivo de produtos que competissem com as especiarias
asiáticas ou os cultivados na própria metrópole. Dessa forma, promissoras plantações
que se iniciavam foram logo dizimadas, como é o caso das vinhas, do trigo e do