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Dreadnoughts
e a ‘honra nacional’
Se navios de guerra de alto poder de destruição refletiam a imagem e o prestígio de um
país para a comunidade internacional, a mesma lógica valia para a sua própria população. Além da
imagem da força, os navios também demonstravam que o país guiava-se pelos trilhos da
modernidade, de forma equivalente ou, pelo menos, próximo às grandes potências da época.
A necessidade de adquirir e manter os navios de última geração era uma questão de honra
para o governo, o que obviamente não passava despercebido às embaixadas, que comunicavam a
seus respectivos países sobre as aquisições brasileiras com o sarcasmo que muitas vezes
encontramos nas correspondências diplomáticas. Sir W. Haggard, chefe da legação inglesa no
Brasil, por exemplo, informava no ano de 1909, que os navios brasileiros eram “(...) uma espécie
de brinquedos novos”, e que era honra nacional tomar posse deles
(apud MARTINS FILHO, 2010).
Entretanto, expressava a sua dúvida sobre a capacidade dos oficiais e marinheiros brasileiros
manejá-los devidamente. O mesmo Sir. W. Haggard já escrevia antes da chegada das
embarcações, em 6 de março de 1907:
(...) tomei conhecimento de que os três navios encomendados pelo governo
brasileiro aos srs. Armstorng foram aumentados de 13 mil para 19 mil toneladas.
Essas formidáveis máquinas de guerra seriam mais provavelmente efetivas se
houvesse oficiais brasileiros capazes de colocá-la em combate ou mesmo de
navegá-las. (apud MARTINS FILHO, 2010, p. 151).
A chegada do primeiro navio
dreadnought
, o
Minas Gerais
, à Bahia de Guanabara foi um
grande evento, que contou com a participação da população e da imprensa. Na verdade, o que
adentrava a capital da República naquele dia 9 de abril de 1910 não era apenas um ciclópico navio
de guerra; era o próprio progresso. O jornal
O Paiz
, por exemplo, publicava excitadamente:
A chegada do
Minas Gerais
, eis o grande acontecimento que ontem fez palpitar
numa vibrante excitação patriótica toda a alma nacional, por que não foi só o Rio
de Janeiro que recebeu nas águas de sua formosa baía o formidável dreadnought;
foi o Brasil inteiro que saudou no vulto agigantado do colosso dos mares sul-
americanos o símbolo soberano de sua própria pujança, a expressão concreta de
sua energia de nação (apud, MARTINS FILHO, 2010, p. 169).
O mesmo jornal, em sua edição de 19 de abril de 1910, além de informar que o navio