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autoridades políticas e de membros da Armada desde a batalha de
Tsushima,
travada entre a
Rússia e o Japão, em 1905. Nessa batalha, os japoneses, privilegiando a utilização de calibres
pesados em seus navios encouraçados, aniquilou a esquadra russa, que utilizou as táticas
tradicionais da guerra naval (DE MARTINI, 2014, p. 316-317). As lições táticas da batalha russo-
japonesa, somados ao forte lobby dos estaleiros ingleses e o anseio em alcançar o
status
de
‘potência’ fizeram com que o Ministério da Marinha modificasse os rumos das aquisições navais
previstas pelo Programa de 1904 de modo a incorporar os
dreadnoughts.
Essa modificação foi
feita não sem debates no Poder Legislativo, onde aliados do ex-ministro Júlio César de Noronha
questionavam o novo programa naval que o ministro Alexandrino buscava implementar.
Convém mencionar que a discussão acerca do programa naval também não estava isenta
de questões pessoais. Os ministros haviam lutado em lados opostos durante a revolta de oficiais
de 1893; Alexandrino ao lado dos oficiais revoltosos e Noronha ao lado do governo. Tal revolta,
conforme veremos à frente, causou grande divisão do oficialato naval ao longo da Primeira
República. Apesar dos argumentos técnicos, as mudanças do programa naval não podem ser
dissociadas dessa divisão entre os oficiais (DE MARTINI, 2014, p. 318). Por fim, o programa naval
defendido por Alexandrino foi aprovado pelo Poder Legislativo.
A mudança do programa logo volveu os olhares perplexos e desconfiados da comunidade
internacional para o Brasil. Primeiro país a encomendar e possuir um
dreadnought
após a
Inglaterra, o Brasil, ao adquirir tais máquinas de guerra passava a caminhar no terreno minado da
corrida armamentista e naval que precedeu a Primeira Guerra Mundial.
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Os navios comprados por
Alexandrino mergulharam a América do Sul em uma maré de rivalidades envolvendo Argentina,
Brasil e Chile. Seguindo a lógica da necessidade de defesa em caso de conflito e, principalmente,
da imagem do país perante o mundo, buscavam superar as nações rivais no tamanho e poder de
fogo de sua força naval.
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7. O primeiro navio encomendado pelo programa naval do ministro Alexandrino, o ‘Minas Gerais’, foi considerado, por
certo tempo, o navio de guerra mais poderoso do mundo. Tal fato originou a conjectura, principalmente das potências
europeias, de que talvez o Brasil estivesse servindo de intermediário a um terceiro comprador, que adquiriria tal
máquina de guerra de forma discreta e sem hostilidades das demais potências. De acordo com essas opiniões, o
dreadnought
era poderoso demais para o Brasil (DE MARTINI, 2014, p. 320; NETO, 2014, p. 106).
8. Acusando o Brasil de buscar firmar sua hegemonia no continente através dos seus novos navios, o que não era um
juízo falso, a Argentina encomendou, em 1908, dois
dreadnoughts
ainda maiores que os do Brasil. Devemos observar
que as encomendas argentinas foram feitas às vésperas da Conferência Pan-Americana que seria sediada em Buenos
Aires, no ano de 1910. Pouco tempo após as encomendas portenhas, foi a vez de o Chile buscar aumentar o seu
poderio naval, encomendando aos estaleiros ingleses dois navios ainda mais poderosos. E de fato, um dos
dreadnoughts
chilenos, o
Almirante Latorre
, lançado em 1915, foi o navio de guerra mais poderoso do mundo,
mesmo que por pouco tempo (DE MARTINI, 2014, p. 323-324).