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ainda estava com visita franqueada ao público, noticiava também as congratulações de oficiais da

Marinha e de outras autoridades ao homem que concretizou a sua existência nos mares

brasileiros, o ministro Alexandrino. O discurso publicado do chefe da Inspetoria de Fazenda e

Fiscalização, o capitão de mar e guerra Ferreira Campello foi uma verdadeira ode ao ministro:

(...) a vós, é certo, cabem a satisfação e grande glória neste fato.

A vossa tenaz perseverança, ao vosso ingente trabalho e ao vosso acentuado

patriotismo deve a nação essa alegria, esse contentamento e esse entusiasmo

geral com que foi recebido e saudado esse poderoso navio.

Possa, Sr. Ministro, esse fato, assinalador de vossa era para a marinha de guerra,

desperta-lhe a clarividência dos dilatados horizontes, com cujo descortino,

bastantemente concorrerá para assegurar a grandeza e felicidade do povo que

inscreveu em seu pavilhão nacional o lema “Ordem e Progresso” e sua marinha

adotou a divisa “Tudo pela Pátria” (O MINAS GERAIS, 1910, p. 3).

Entretanto, a imagem de nação naval forte e hegemônica sofreria grande estremecimento

pouco tempo depois da chegada dos navios, com a eclosão da revolta de marinheiros de 1910,

que ficou conhecida também como

Revolta da Chibata

. Os marujos amotinados, que utilizaram

os modernos navios de guerra para bombardear a capital, mostraram para o Brasil e para o

mundo a discrepância entre o ideal e o real na Marinha brasileira. De um lado, máquinas de

guerra com grande quantidade de tecnologia agregada, assim como grandes planos de

modernização de repartições navais; de outro, oficiais, marinheiros e a própria administração

pública despreparados para a renovação que se buscava efetuar na Marinha. E mais ainda, a

Revolta pode ser encarada como um reflexo de um processo maior que ocorria no país, o de

modernização conduzida por uma elite e por um regime político que, conforme as palavras de

Raimundo Faoro, “acolheu-se, repetidamente, ao primeiro susto, mais fictício do que real,

debaixo da proteção das baionetas” (1992, p. 21), ou seja, que excluía o grosso da população dos

processos políticos e econômicos do país não hesitando em reprimi-la violentamente quando se

sentia ameaçada.

A exclusão social foi um elemento que motivou inúmeras revoltas na Primeira República e

o governo não mediu esforços e cartuchos para contê-las, como demonstrou os episódios de

Canudos ou do Contestado

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. Entretanto, no caso da Revolta dos Marinheiros de 1910, podemos

14. Em Canudos, na Bahia, o governo republicano mobilizou várias e cada vez maiores expedições militares até o

arraial palco da revolta estar completamente arrasado. Na região do Contestado, que abrangia os estados do Paraná

e de Santa Catarina, entre 1912 e 1916, o governo utilizou aviões de bombardeio contra os revoltosos, onde milhares

de pessoas foram mortas nestas revoltas.