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observar uma grande cautela do governo ao reprimir a rebelião. Um ataque do governo aos

navios enfrentou grande oposição, de civis e militares, com exceção de poucos oficiais da

Marinha. Durante as deliberações sobre como tratar a revolta, o próprio barão do Rio Branco

manifestou-se intensamente contrário à possibilidade de destruir os navios amotinados com

torpedos, pois isto faria o Brasil perder poderio naval frente à Argentina e o Chile (DI MARTINI,

2014, P. 322).

Obviamente, a precaução do governo e, em especial, do barão do Rio Branco, podem ser

explicadas por motivos econômicos. Afinal de contas, navios de tal magnitude são extremamente

caros, e afundá-los significaria um enorme prejuízo aos cofres do governo. Entretanto, o símbolo

que tais navios representavam para a nação também era um elemento importante, e que não

deve ser desprezado em nossa análise. Como bem nota Martins Filho, a decisão de danificar ou

afundar um navio

dreadnought

seria um dilema para qualquer governo e Marinha do mundo,

visto a grandeza nacional que espelhava. (MARTINS FILHO, 2010, p. 194). Tal análise é corroborada

pela opinião do adido naval norte-americano Glenn Howell, que presenciou, no ano de 1924,

outro episódio em que o governo brasileiro teve a possibilidade de afundar um dos seus

estimados navios, mas não o fez:

(…) naturalmente, deve se considerar que o São Paulo e o Minas Gerais significam

mais para o povo brasileiro do que dois encouraçados americanos para nós. Eles

representam um símbolo de poder e soberania brasileira, e é certo que decidir

afundar um deles resultaria numa grande onda de indignação popular (apud

MARTINS FILHO, 2010, p. 194).

Esse aspecto simbólico dos

dreadnoughts

brasileiros, contudo, ainda está para ser

estudado de forma mais densa, seja pelos historiadores da Marinha, seja pelos da Primeira

República em geral.