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34). As faltas disciplinares poderiam ser julgadas pelos comandantes dos navios e repartições

navais

in loco

, de forma mais rápida do que levando os desertores a um tribunal militar, onde seria

estabelecido um processo que poderia durar anos. Enquanto aguardavam o julgamento, os

marinheiros ficavam afastados das guarnições militares, situação indesejável em uma conjuntura

de constante falta de praças. Assim, Noronha propunha a volta oficializada dos ‘tribunais de

convés’, onde os comandantes julgavam e puniam faltas de acordo com suas conveniências. É

necessário lembrar que tais punições muitas vezes realizavam-se em castigos físicos, que, embora

já não fossem mais previstos na Marinha, ainda eram praxe nas embarcações (NETO, 2014, p. 100;

NASCIMENTO, 2001).

Nos arsenais, repartições vitais para qualquer esquadra, sobretudo as modernas, a

situação era de precariedade de equipamentos e baixa produtividade. O ministro chamava a

atenção de que o Arsenal do Ladário, no Mato Grosso, por exemplo, tinha oficinas que gastavam

3,39 vezes mais do que produziam. (BRASIL, 1903, p. 64). O Arsenal do Rio de Janeiro, em

melhores condições que os demais

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, apesar de também considerado moroso e precário, deveria

estar situado em uma região mais afastada da cidade, fosse por razões estratégicas ou por uma

logística mais eficiente (BRASIL, 1903, p. 59-60). No relatório de 1905, Noronha escrevia que o

Congresso autorizara o Executivo a efetuar a mudança do arsenal, assim como firmar o contrato

com empresas para a sua construção. Entretanto, relatava também que, embora a necessidade de

transferência fosse vista como necessária pela maioria das opiniões na Marinha, a nova localidade

onde deveria ser instalado não era consensual: uns achavam que deveria ficar no Rio de Janeiro;

outros, na baía da Ilha Grande; outros, em Santa Catarina.

Pessoalmente, o ministro opinava de forma contrária à manutenção do arsenal na baía do

Rio de Janeiro, não somente por questões estratégicas, mas também por questões políticas. Afinal

de contas, conforme as próprias palavras de Noronha, era preciso afastar a Marinha “da influência

política que é dissolvente da disciplina” (BRASIL, 1906, p. 70). Se atentarmos para o fato de que

Júlio César de Noronha presenciou o grande motim de oficiais de 1893 e lutou pelo lado

governista, sua preocupação com as influências políticas sobre a disciplina da tropa parece

natural. E quando olhamos para a outra força armada da República, o Exército, e verificamos a

grande efervescência política nas tropas no período, principalmente entre os oficiais de baixa

patente (CARVALHO, 2005, p. 13-61), essa posição do ministro parece ainda mais natural.

22. Na gestão do ministro Júlio César de Noronha o Ministério da Marinha tinha sob sua subordinação os Arsenais do

Rio de Janeiro, do Pará e do Ladário.