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A fusão desses dois quadros, na realidade, foi problemática e controvertida em várias

marinhas e não somente no Brasil. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo, houve

resistências entre os oficiais mais tradicionais que temiam a perda de prestígio que a união entre

oficiais combatentes e maquinistas poderia trazer (MARTINS FILHO, 2010, p. 176). No Brasil, o

problema passava também pelo recrutamento elitista de seus oficiais desde os tempos imperiais

26

(CARVALHO, 2006, p. 19).

A morosidade das promoções também era um aspecto preocupante para a modernização

da Marinha que Alexandrino, assim como outros ministros, buscava contornar. De fato, o número

excessivo de oficiais nas repartições e embarcações foi uma característica que permeou todo o

período da Primeira República e não foi devidamente resolvido. Para constatar isso, basta atentar

para as palavras do ministro Protógenes Pereira Guimarães em seu relatório endereçado ao

presidente Getúlio Vargas, em junho de 1932:

(…) Assim como a ideia de regulamentar as especialidades profissionais, que

noutro capítulo tratamos, passou entre nós por um processo evolutivo de uma

lentidão que nada pôde abonar a nossa capacidade de progresso, assim também

a evolução do nosso quadro de oficiais e do respectivo sistema de acesso foi de

uma morosidade impressionante. Divulgavam-se as normas adotadas em certas

marinhas por meio de revistas, artigos de jornais e até em documentos de

importância oficial, sucediam-se os ministros, passou pela marinha a Missão

Naval Americana e nada conseguiu tornar regular o acesso da oficialidade, afastar

os mais idosos, de acordo com determinadas normas e garantir a melhoria da

situação dos mais modernos depois de um certo tempo de serviço! (BRASIL,

1932, p. 74).

A morosidade das promoções era tão grande que uma patente poderia mesmo conter

gerações de oficiais. Ainda com a palavra, Protógenes Pereira Guimarães:

(…) Parece, pois, que no futuro, não se dará o fato de poderem coexistir com o

mesmo posto de capitão-tenente dois oficiais, pai e filho, ou que haja numerosos

capitães tenentes, isto é, subalternos, com 50 ou 48 anos. (BRASIL, 1932, p. 75).

O grande número de oficiais nos navios e repartições navais não somente estava

relacionado à lentidão das promoções, mas também ao clientelismo político, tão característico da

26. O regime de fusão entre os cursos de marinha e de máquinas acarretou uma grande carência de oficiais aptos

para o manejo das máquinas, de modo que o ministro Raul Soares de Moura os separou novamente na Escola Naval

no ano de 1919. O referido ministro, além de tornar o curso de máquinas mais rápido, também proporcionou aos

oficiais maquinistas o acesso ao Corpo de Engenheiros Navais o que lhes era vetado antes. Oferecia-se assim uma

maior possibilidade de ascensão aos oficiais maquinistas, dando maior estímulo para o ingresso nesse quadro

(BRASIL, 1920, p. 15).