

37
A fusão desses dois quadros, na realidade, foi problemática e controvertida em várias
marinhas e não somente no Brasil. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo, houve
resistências entre os oficiais mais tradicionais que temiam a perda de prestígio que a união entre
oficiais combatentes e maquinistas poderia trazer (MARTINS FILHO, 2010, p. 176). No Brasil, o
problema passava também pelo recrutamento elitista de seus oficiais desde os tempos imperiais
26
(CARVALHO, 2006, p. 19).
A morosidade das promoções também era um aspecto preocupante para a modernização
da Marinha que Alexandrino, assim como outros ministros, buscava contornar. De fato, o número
excessivo de oficiais nas repartições e embarcações foi uma característica que permeou todo o
período da Primeira República e não foi devidamente resolvido. Para constatar isso, basta atentar
para as palavras do ministro Protógenes Pereira Guimarães em seu relatório endereçado ao
presidente Getúlio Vargas, em junho de 1932:
(…) Assim como a ideia de regulamentar as especialidades profissionais, que
noutro capítulo tratamos, passou entre nós por um processo evolutivo de uma
lentidão que nada pôde abonar a nossa capacidade de progresso, assim também
a evolução do nosso quadro de oficiais e do respectivo sistema de acesso foi de
uma morosidade impressionante. Divulgavam-se as normas adotadas em certas
marinhas por meio de revistas, artigos de jornais e até em documentos de
importância oficial, sucediam-se os ministros, passou pela marinha a Missão
Naval Americana e nada conseguiu tornar regular o acesso da oficialidade, afastar
os mais idosos, de acordo com determinadas normas e garantir a melhoria da
situação dos mais modernos depois de um certo tempo de serviço! (BRASIL,
1932, p. 74).
A morosidade das promoções era tão grande que uma patente poderia mesmo conter
gerações de oficiais. Ainda com a palavra, Protógenes Pereira Guimarães:
(…) Parece, pois, que no futuro, não se dará o fato de poderem coexistir com o
mesmo posto de capitão-tenente dois oficiais, pai e filho, ou que haja numerosos
capitães tenentes, isto é, subalternos, com 50 ou 48 anos. (BRASIL, 1932, p. 75).
O grande número de oficiais nos navios e repartições navais não somente estava
relacionado à lentidão das promoções, mas também ao clientelismo político, tão característico da
26. O regime de fusão entre os cursos de marinha e de máquinas acarretou uma grande carência de oficiais aptos
para o manejo das máquinas, de modo que o ministro Raul Soares de Moura os separou novamente na Escola Naval
no ano de 1919. O referido ministro, além de tornar o curso de máquinas mais rápido, também proporcionou aos
oficiais maquinistas o acesso ao Corpo de Engenheiros Navais o que lhes era vetado antes. Oferecia-se assim uma
maior possibilidade de ascensão aos oficiais maquinistas, dando maior estímulo para o ingresso nesse quadro
(BRASIL, 1920, p. 15).