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Caderno Mapa n.7 - A Secretaria de Estado do Negócios Estrangeiros e a consolidação das relações exteriores no Brasil

Essa nova situação política possibilitou o processo de implantação de novas instituições e de

organização da burocracia imperial. Vale dizer, no entanto, que a ideia de racionalização administrativa

não foi um fenômeno restrito ao Brasil independente, e remete à época pombalina (1750-1777)

12 .

A

Ilustração portuguesa, que teve seu auge em meados do século XVIII, teve reflexos na formação do

Estado brasileiro, já que grande parte da elite dirigente das primeiras décadas do Império teve sua

formação em Coimbr

a 13 ,

influenciando, assim, a consolidação das instituições e gerações posteriores.

Mesmo assim, apesar de a ideia de organização das práticas burocráticas do Estado ser antiga, a

estruturação e especialização das atividades dos órgãos da administração pública no Brasil independente

não correspondeu, num primeiro momento, ao modelo burocrático que conhecemos hoje. Práticas

como a divisão da administração por funções; o servidor como um agente do Estado, tendo suas

atividades reguladas e regras para o ingresso no serviço público; e a existência de normas e

regulamentos que orientassem as atividades e os serviços, foram muito lentamente sendo executadas ao

longo da segunda metade do século XIX e das primeiras duas décadas do século XX.

Em relação às secretarias de Estado, podemos observar uma maior especialização das atividades no

início do Segundo Reinado. Anteriormente, vários ministros já haviam solicitado reformas através dos

seus relatórios anuais apresentados à Assembleia Legislativa e também foram constituídas comissões

para elaboração de projetos de estruturação das secretarias, citadas muitas vezes nesses relatórios.

Porém as medidas eram adiadas por várias razões, dentre elas as sucessivas crises políticas e a situação

econômica do país. Só em 1841 o processo das reformas administrativas das secretarias de Estado

iniciou-se com a estruturação da pasta da Guerra. Em 1842 foi a vez de Marinha, Justiça, Império e

Estrangeiros (CASTRO, 1983, p. 65-66).

Até essa época a estrutura dos ministérios era muito simplificada e a legislação

que trata das

reformas no período demonstra apenas a existência do ministro e secretário de Estado e dos

funcionários, tais como amanuenses, contínuos, correios e porteiro. Apenas o Tesouro Público

Nacional apresentava uma estrutura mais especializada desde o período joanino, dividindo-se em

contadoria

s 14

. A Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros buscou uma divisão de trabalhos mais

12

Influenciado pela ilustração francesa, o Marquês de Pombal buscou realizar reformas que pudessem melhorar a economia

e o prestígio político português, investindo sobretudo na formação intelectual daqueles que deveriam preencher os cargos da

administração pública. Um dos principais reflexos dessa política foi a reforma nos estatutos da Universidade de Coimbra em

1772. Em 1779 foi fundada a Academia Real de Ciências no reinado de d. Maria I, que apesar de divergir em muitos

aspectos das reformas pombalinas, continuou o projeto de uso da cultura como instrumento de ação do Estado (FALCON,

1982; NEVES, 1999).

13

Para maiores informações sobre a formação da elite política imperial, ver José Murilo de Carvalho, 2010.

14

Alvará de 28 de junho de 1808.

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