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discrepantes das concepções do almirante Alexandrino Faria de Alencar tiveram vida curta na

Primeira República, visto que este tinha uma grande tendência a anulá-las sempre que voltava a

ocupar a cadeira ministerial

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. Melhor exemplo dessa atitude pode ser verificado quando assumiu

pela segunda vez a pasta, em 1913. Como um verdadeiro

dreadnought,

o almirante voltou-se

contra a organização implementada pelo ministro Marques de Leão, que o tinha sucedido no ano

de 1910:

Apesar de posta em prática e já executada com sucesso, durante três anos, essa

nova organização, que viveu num período de violenta perturbação, naturalmente

decorrente da aquisição de uma esquadra moderna e de preparação do pessoal

para as suas novas funções, logo após a posse do meu sucessor foi, por outros,

violentamente destruída. O secretário escolhido pelo Presidente para com ele

partilhar da alta responsabilidade sobre tão importante elemento da ordem

interna e externa, deve ter as qualidades de ação e de atividades indispensáveis

para exercê-la. A função de ministro impõe o mais completo devotamento ao

serviço; esses deveres, de uma profunda influência fiscalizadora e executora lhe

são inerentes; não é um posto para comodistas, inativos ou ociosos (BRASIL,

1914, p. 144-145).

No que se refere à questão da centralização do comando nas mãos do novo ministro,

Alexandrino é taxativo:

Quanto à descentralização do mando, da responsabilidade, insistimos em

combatê-la, por ser o primeiro sintoma da anarquia, tanto mais grave se

verificou, numa época de crise, de dissolução da corporação. Não hesitamos em

classificar de ridículo o chefe que, em período de violenta perturbação, anula a

sua autonomia, apaga a sua personalidade, mormente sem motivos que o

autorizem a confiar absolutamente (BRASIL, 1914, p. 147).

Para Alexandrino, embora houvesse a necessidade de libertar o ministro das muitas

atribuições burocráticas que impediam a agilidade das ações ministeriais, a centralização do

comando da Marinha em suas mãos era fundamental. Nos serviços militares deveria ser bem

destacada a responsabilidade moral de um só homem perante a nação (BRASIL, 1915, p. 16). No

que concerne à consulta de outros membros do alto escalão naval para o devido amparo das

decisões ministeriais, defendia que a organização por ele implementada em 1907 possibilitava

isto:

28. Basta lembrar que Alexandrino Faria de Alencar ocupou a pasta ministerial por três vezes na Primeira República:

1906-1910, 1913-1918, 1922-1926. Esses intervalos de tempo, espaçados e relativamente longos, em que o ministro

esteve à frente da pasta, tiveram contribuição para a predominância das suas concepções na organização e na

estruturação do Ministério da Marinha entre 1891-1930.